Diário do Alentejo

Sem água não se vive

12 de abril 2024 - 12:00
50 anos de Abril

Texto Aníbal Fernandes

 

 

O título desta crónica reproduz aquele que foi escrito na “Nota do Dia” da edição do “Diário do Alentejo” de 10 de abril de 1974, dando conta de um problema que ainda hoje está na ordem do dia e com tendência a agudizar-se devido aos períodos de seca cada vez mais prolongados.

É certo que a construção de Alqueva veio resolver grande parte do problema, nomeadamente, no abastecimento de água às populações; mas, se olharmos para o território, persistem situações em que a escassez de água é recorrente e, em alguns casos, sem solução à vista.

Há 50 anos, essa mesma semana, a 8, começou com pequenas notícias na última página em que se informava que os Serviços Municipalizados da Câmara Municipal de Beja estavam “a tentar fornecer água às partes altas” da cidade “das 10 às 12 horas e às partes baixas das 22 às 10 horas”. O fornecedor da água pedia ainda aos cidadãos para “restringirem cerca de 50 por cento os seus gastos habituais de água”.

Na quarta-feira seguinte, na edição da referida “Nota do Dia”, o assunto já mereceu destaque na primeira página. Na manchete dava-se conta da situação em Castro Verde, com o então presidente da câmara municipal, Álvaro Francisco Romano Colaço, a informar que, “apesar das diligências feitas, não foi possível concretizar o anunciado abastecimento de água a Casével, Aivados e Ourique-Gare”.

Segundo o autarca, o problema resultava, “apesar da insistência da câmara”, da falta de autorização da Direção-Geral de Salubridade para que a construção das infraestruturas que permitiriam o abastecimento fossem lançadas a concurso.

Ao lado, a duas colunas, a secção “Nota do Dia – como já referimos – dava força ao tema revelando que “as restrições encetaram-se há dias e de uma forma tão brusca, certamente provocada pelas circunstâncias, que os respectivos serviços nem tiveram tempo para dirigir qualquer prévio aviso aos consumidores”.

E acrescentava o colunista: “Tudo indica que elas se manterão, pois há a notícia de que as reservas estão à beira de se esgotarem, dada a falta de chuva que se tem verificado nos últimos quatro anos. O problema da falta de água em Beja, que não é de hoje, nem de ontem, mas de há muitos anos atrás volta assim a uma actualidade premente e deve ser encarado com a maior preocupação”.

Na última página, a três colunas, o município justificava a situação: “O consumo de água tem aumentado, na cidade, a uma percentagem média anual de 10 por cento; os caudais têm diminuído assustadoramente [e] alguns furos e poços se encontram exauridos; o poço aberto o ano passado começou com 30 m3/hora e está hoje com 12 m3/hora”.

Na edição seguinte, quinta-feira, na capa, o problema passava a ser global: “Falta de água – problema mundial”, era o título de uma caixa onde se explicava que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, “130 milhões de indivíduos em 75 países ressentem-se da escassez de água”, acrescentando que “não se observa[va] apenas falta de água em desertos e em ilhas afastadas. Dos 1,4 biliões de quilómetros cúbicos de água – uma quantidade inimaginável que existe na Terra – 97,2 por cento são água salgada e 2 por cento água congelada. Apenas 0,8 por cento são água doce”.

Até a popular secção “Zunzuns da Porta de Mértola” não passou ao lado desta temática, tendo publicado várias notas sobre o assunto: “Evidencia-se a preocupação dos industriais de construção civil pelas sombrias perspectivas de falta de água que já se faz notar e mais se agravará no Verão; Diz-se que a falta de água poderá levar à não abertura este ano da piscina municipal; Regista-se (de novo) a presença da chuva, que a persistir poderá, de algum modo, atenuar as graves perspectivas de escassez do precioso líquido que se antevêem; Sabe-se que a Câmara procede à abertura de furos para tentar suprimir a falta de água que se prevê para o Verão próximo”.

 

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