Diário do Alentejo

“Ser poeta e professor ajuda-me a ter dias felizes”

07 de dezembro 2023 - 15:35
três, intitula-se o mais recente livro de Nuno Ega
Foto | D.R.Foto | D.R.

Miguel Elias

59 anos, natural de Mértola

 

Nasceu em Mértola e aí fez os seus primeiros amigos. Em 1971 foi viver para Beja, onde concluiu os ensinos primário, preparatório e secundário e continuou a aprender a ser alentejano. Licenciou-se em Engenharia Zootécnica na Universidade de Évora (UÉ). Fez-se mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos pela Universidade Técnica de Lisboa. Doutor em Engenharia Alimentar (2005), é professor da UÉ desde 1995. Escreve versos desde rapazito. Torna à sua terra sempre que pode.

 

Miguel Nuno apresentou, recentemente, o seu terceiro livro de poesia intitulado três, cujos poemas são assinados por Nuno Ega, pseudónimo literário do autor.

 

Como nos apresenta três?

três fala-nos de vários assuntos que nos convidam à reflexão. Porque se trata de um livro de poesia, não deve ser lido apressadamente. É necessário tempo para que haja comunicação entre o leitor e a poesia. O importante é que se estabeleça esse diálogo, que a voz que brota da poesia ponha o leitor a pensar, a descobrir coisas novas entre as coisas que tem, a olhar de modo diferente, numa outra perspetiva. Os livros de poesia têm muito a dizer, o três tem muito para dizer. Para o ouvirmos precisamos de querer escutá-lo, sem pressa.

 

Percorre este livro um caminho distinto dos seus antecessores ou dá-lhes continuidade?

Este livro, segundo opiniões que muito prezo, revela uma poesia mais madura que a dos meus dois livros anteriores. Os poemas que fui escolhendo para os livros que publiquei obedecem a uma ordem que eu estabeleci. Nessa perspetiva, há uma certa continuidade, entre os poemas que são cada um dos livros. Porém, a poesia tem uma linguagem própria, diferente para cada leitor, pois, cada um pensa e sente de forma distinta. Neste sentido, os livros que escrevi podem ser encarados como vozes que chegam de sítios diferentes, ou vozes diferentes que vêm do mesmo sítio... Nesta dimensão, os livros são livres e podem seguir diferentes caminhos. Em alguns deles haverá a noção de continuidade, noutros não.

 

Diz o povo que “não há duas sem três”, o que se confirma no que ao seu percurso literário diz respeito. É este livro, à semelhança do adágio, a comprovação da inevitabilidade poética do seu alter ego?

Cada vez dou mais atenção ao que diz o povo. O povo é sábio e sabe sentir. O povo tem muito para dizer a toda a gente. Contudo, pouca gente liga ao povo e muitos se esquecem que nós somos o povo. Em certa medida, concordo com a sua suposição – este meu livro aparece porque decidi trazer à luz os versos que vou escrevendo. A partir desse momento, enquanto me nascerem versos e houver editor que os queira publicar, torna-se inevitável a sucessão de livros de Nuno Ega.

 

É docente na UÉ. De que forma coexiste em si o necessário rigor académico e a inevitável condescendência da poesia?

Somos várias pessoas. O “eu” que está num júri de provas académicas é diferente do outro “eu“ que está a falar com um amigo de sempre, de olhos postos no rio, sobre as moças com quem não dançámos nos bailes do grémio. Ser professor universitário implica ser rigoroso na investigação e na docência, mas é, também, necessário nesta profissão ser-se condescendente para com alunos, colegas e connosco. Quanto à poesia, prefiro olhá-la como livre, informal, libertadora, subversiva, criadora, sempre bela. Estas duas facetas, professor e escritor de versos, coexistem em mim sem conflito. Ser poeta ajuda-me a ser professor, ser professor ajuda-me a construir a minha poesia, e estas duas condições ajudam-me a ter dias felizes. José Serrano

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