Diário do Alentejo

Um “lugar honesto e vulnerável” que cativou o júri

24 de novembro 2023 - 11:42
Beatriz Mira conquista prémio nacional de dança
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Beatriz Mira, 25 anos, natural de Vila Alva (Cuba)

 

Em 2019 iniciou a sua carreira na Companhia Instável e estagiou no Ballet Koblenz. De 2020 a 2023 integrou o elenco da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo. Em 2021, numa parceria com Tiago Barreiros, estreia “Corrente”, que se apresentou no Rotterdam International Duet Choreography Competition, e recebeu o Partner Award do Dutch National Ballet do qual resultou um convite para coreografar para a Junior Company. Em 2023, a dupla estreia “Café”, no Blois Dance Festival. 

 

Texto José Serrano

Beatriz Mira é um dos elementos, o outro é Miguel Santos, da dupla vencedora da categoria “Dança” da edição de 2023 da Mostra Nacional Jovens Criadores, o mais alargado programa de estímulo à criação artística em Portugal, iniciativa do Instituto Português do Desporto e Juventude, organizada pelo Gerador, plataforma portuguesa independente de jornalismo, cultura e educação.

 

Quais as características do trabalho – “Atopos” – que apresentou, merecedoras da distinção do júri?“Atopos” é uma peça que presta homenagem aos contrastes e nuances da sensibilidade humana. O nosso foco para a criação foi ser o mais fiel possível a essa premissa. Talvez tenha sido esse lugar honesto e vulnerável que cativou o júri.

 

A Mostra Nacional Jovens Criadores já deu a conhecer artistas de relevo, como o escritor Valter Hugo Mãe, a estilista Maria Gambina ou o bailarino Victor Hugo Pontes. Estas “boas companhias” amplificam a responsabilidade de receber este prémio?Senti, realmente, qualquer coisa especial, ao ver nomes de pessoas que admiro associados a esta etapa do meu percurso. Mais do que amplificar a responsabilidade, o prémio deu-me um impulso para continuar. Nem sempre são mensuráveis as conquistas de um artista e fico feliz de ter este reconhecimento, nesta fase tão inicial da minha carreira, mas acredito que a verdadeira importância está em fazer o trabalho com brio.

 

O que diria aos jovens que, vivendo no interior do Alentejo, tenham o sonho de vir a ser bailarino(a)s profissionais?O mais importante é usufruírem da formação que têm, procurando, também, a formação que desejam. Muitas vezes, o fator financeiro tem um grande peso nessa decisão, mas existem fundações e instituições que disponibilizam financiamentos para a educação, e plataformas, como o crowdfunding, que podem funcionar como financiamento independente. Com persistência, acredito que é possível ter o apoio necessário.

 

Com 16 anos endereçou uma carta ao “Diário do Alentejo” (“DA”) procurando indícios para “arranjar soluções” educativas ao nível da dança, manifestando a certeza de querer ser bailarina profissional. O então diretor do “DA”, Paulo Barriga, respondeu-lhe: “O teu amor por aquilo que fazes é a chave que abrirá as portas de uma carreira cheia de sucessos”. Vem esta distinção comprovar essa intuição?Foi bonita a forma como o diretor Paulo Barriga partilhou a minha história e me respondeu com palavras que me incentivaram a acreditar na concretização do meu sonho. Continuo apaixonada pela dança e é isso que me leva a continuar à procura de mais. Sinto que ainda estou muito no princípio, mas sou grata por poder viver do que gosto.

 

Quando poderá o Alentejo admirar o seu talento? A peça “Atopos” estreou em Évora, mas não tenho nenhuma outra atuação prevista para o Alentejo. Gostaria muito de apresentar o meu trabalho na terra que me viu crescer [Beja]. Afinal, o Pax Julia – Teatro Municipal foi o meu primeiro palco e farei por regressar a ele.

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