Diário do Alentejo

“O reforço dos cuidados de saúde primários é essencial”

26 de outubro 2023 - 12:00
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Integrando o serviço de Psiquiatria do Departamento de Saúde Mental da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), a equipa tem centrado a sua atividade nos cuidados a pessoas com demência e outras doenças psiquiátricas de início tardio. No Baixo Alentejo estima-se que existam 2600 doentes com demência (prevalência de 2,3 por cento da população), sobretudo, por doença de Alzheimer e doença vascular cerebral.

 

Recentemente, a equipa de Psiquiatria Geriátrica da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) foi distinguida, a nível nacional, pela direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com o “SNS Award”, na categoria “Colaboração comunitária”, pelo trabalho desenvolvido, desde 2022, na formação e intervenção nas estruturas residenciais para pessoas idosas do Baixo Alentejo. “O Diário do Alentejo” falou com o psiquiatra Vasco Nogueira, coordenador da equipa, composta por oito elementos.

 

Texto José Serrano

 

Qual a importância deste prémio?

Integramos um serviço que tem conseguido desenvolver-se de forma sustentada, de modo a melhorar os cuidados que presta. Este crescimento deve-se ao esforço e dedicação dos profissionais que todos os dias se deparam com o desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a estagnação a nível da reforma de saúde mental (por responsabilidade do Governo e do Ministério da Saúde), com a degradação das condições de trabalho, e que, apesar disso, mantêm a esperança num serviço público de qualidade que garanta o direito à saúde.

 

Quais os resultados práticos do trabalho desenvolvido merecedor de distinção?

A equipa iniciou, em 2022, um projeto de intervenção que engloba ações de formação para cuidadores informais, em juntas de freguesia, um grupo psicoeducativo de cuidadores informais, a formação de profissionais em estruturas residenciais para pessoas idosas (ERPI), a teleconsulta e consulta presencial nas ERPI. A articulação com as autarquias e o setor social tem permitido ganhos de capacitação de profissionais para intervenção em doentes com demência, uma maior eficiência de recursos do SNS e a prestação de cuidados diferenciados.

 

Há aspetos particulares, na região, que propiciam a doença mental?

Trata-se de uma população com um índice de envelhecimento elevado e reduzido suporte de gerações mais novas, por êxodo rural ou emigração. A escassez de médicos de família é responsável por um controlo menos eficaz de fatores de risco cardiovasculares, como hipertensão arterial e diabetes. Estes aspetos contribuem para um envelhecimento menos saudável, com menor estimulação psicossocial, risco aumentado de doença vascular cerebral e início precoce de limitações físicas e cognitivas, que conduzem a uma incidência crescente de demência.

 

Quais as medidas necessárias para a melhoria da saúde mental dos idosos no território?

O reforço dos cuidados de saúde primários é essencial para melhorar a intervenção na comunidade, com serviços de proximidade focados na prevenção da doença. A nível ocupacional destaca-se a disponibilização de academias e de espaços recreativos que promovam a interação social, a atividade física e a fruição cultural. A criação de centros de dia e de equipas de apoio domiciliário é fundamental para garantir apoio aos mais velhos, privilegiando a manutenção de autonomia, reduzindo a crescente tendência de institucionalização.

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