Diário do Alentejo

“A realidade, por vezes, não é bem como a mostram no ecrã”

20 de outubro 2023 - 11:30
Fotojornalista Nuno Veiga expõe em Faro, em mostra coletiva sobre a Ucrânia
Foto | D.R.Foto | D.R.

Texto | José Serrano

 

Nuno Veiga

50 anos, natural de Elvas

 

É repórter fotográfico da “Lusa” desde 1997. Como principais trabalhos ao serviço da agência noticiosa portuguesa destaca o acompanhamento de 18 edições da Volta a Portugal em Bicicleta, as várias eleições em Timor-Leste e em São Tomé e Príncipe, as deslocações ao Kosovo, em 1999, o Euro 2004, o Mundial de Futebol da África do Sul, em 2010, os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e, mais recentemente, o trabalho na Ucrânia, em março de 2022, no contexto da invasão daquele país pela Rússia.

 

É amanhã, dia 21, inaugurada, na antiga Fábrica de Cerveja de Faro, uma exposição coletiva, com trabalhos de 12 fotojornalistas portugueses que retrataram na Ucrânia “a ocupação brutal de um país, cuja população resiste, em nome da humanidade”. A mostra, intitulada Diakuyu (“obrigado”, em ucraniano), pode ser visitada até 25 de novembro. Nuno Veiga é um dos profissionais que assina quatro das imagens, de um total de 48 obras expostas.

 

Qual o foco principal destas suas fotografias que fazem parte desta coletiva?

As minhas fotografias tentam mostrar o dia a dia dos ucranianos, numa altura em que a guerra se tinha iniciado, havia um mês, e as tropas russas estavam a cerca de 50 quilómetros de Kiev. Ninguém sabia o que ia acontecer e a nossa circulação estava muito limitada nessa altura.

 

Ainda que sendo um fotojornalista com larga experiência, sente o trabalho em contexto bélico como um “murro no estômago”?

É duro presenciar e ouvir histórias terríveis de pessoas que tinham a sua vida estabilizada, inseridas numa sociedade parecida com a nossa, e que fugiram, deixando tudo. Muitos deles perdendo, nessa fuga, familiares e amigos.

 

Sendo frequente trabalhar em variados contextos, regressou, recentemente, de Nova Iorque, onde integrou a comitiva de jornalistas que acompanhou o Presidente da República Portuguesa na 78.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas. De que forma este conhecimento lhe tem “moldado” a perceção do mundo?

Ter a possibilidade de viajar e acompanhar os acontecimentos de perto, seja em que contexto for, é, sem dúvida, um privilégio e permite-me ter outra noção da realidade. Seja para perceber o esforço e a campanha que os políticos fazem para tentar melhorar as coisas, no nosso país, as relações dos outros com Portugal ou para perceber que as televisões “puxam” pelo lado mais negativo, o que, infelizmente, é o que lhes dá audiências. E que a realidade por vezes não é bem como a mostram no ecrã.

Vive em Vila Boim, localidade do concelho de Elvas. Como se sente, depois de viver o bulício de grandes cidades ou testemunhar acontecimentos conturbados, ao regressar à pacatez da sua terra?

Viver no Alentejo é outro privilégio que considero ter. Adoro morar na calma de uma aldeia alentejana, podendo ir para a “confusão” e a grandes eventos, de tempos a tempos. Nunca quis sair de Vila Boim para uma grande cidade porque gosto de poder acompanhar e registar para o futuro o que vai acontecendo na nossa região.

 

Qual o papel da fotografia como “arma” de reflexão?

O papel do jornalismo, em geral, seja escrito, fotografia ou vídeo, é fundamental, porque, por vezes, é a única forma respeitada de denúncia, mostrando os problemas e o sofrimento das pessoas. Devemos é procurar fontes credíveis, pois a propaganda, em certas ocasiões, manipula os factos e usam-se situações falsas com o objetivo de chocar. Infelizmente, muitas pessoas acreditam no que lhes mostram, sem questionarem a veracidade.

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