Diário do Alentejo

“Para se valorizar é necessário conhecer”

13 de outubro 2023 - 11:10
Viagem Botânica por Portugal, um livro de Luís Mendonça de Carvalho
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Luís Mendonça de Carvalho, 55 anos, natural de Abrantes

Biólogo (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real), mestre em Bioquímica de Plantas (Universidade de Lisboa), doutor em Sistemática e Morfologia de Plantas (Universidade de Coimbra), visiting scholar (Universidade de Harvard, EUA), professor- -coordenador do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) e diretor do Museu Botânico do IPBeja.

Texto José Serrano

Viagem Botânica por Portugal é o título do mais recente livro, recentemente publicado, de Luís Mendonça de Carvalho. Uma obra, editada pelo Clube do Colecionador dos CTT que apresenta um roteiro patrimonial sobre a presença das plantas nas artes e nas tradições portuguesas.

 

Como nos apresenta esta viagem?Este livro é uma viagem por Portugal, que se inicia na ilha do Corvo [Açores] e termina em Lisboa, durante a qual vamos conhecendo tradições e curiosidades relativas ao uso cultural das plantas no nosso país. É uma viagem guiada pelas plantas.

 

Para além de um guia botânico, das várias províncias do País, esta obra é também um encontro com as tradições regionais…Esta viagem é exatamente isso, reencontrar tradições representativas da riqueza cultural portuguesa que utilizem as plantas. Procurámos símbolos regionais, como as cadeiras de tesoura de Monchique, os tarros do Alentejo, as máscaras de Lazarim, os paulitos dos pauliteiros de Miranda, as croças de junco do Barroso, as flores de Santa Luzia, os bordados de Tibaldinho, as esculturas de miolo de figueira e outras tradições.

 

Podemos dizer que existe, nos vários territórios que constituem o País, uma relação una e vital entre a flora autóctone e as tradições, os próprios objetos?Existe, de facto, uma relação próxima, mas temos de ressalvar que, em algumas regiões, utilizam-se plantas que não são autóctones, mas introduzidas e cultivadas pelos humanos. Por exemplo, os bordados de palha dos Açores utilizam trigo ou centeio, que não são plantas autóctones, mas cultivadas nos Açores, ou mesmo plantas que nem sequer são cultivadas no local, como o algodão utilizado nos conhecidos bordados da Madeira. Exemplos do uso de plantas autóctones são os palitos de Lorvão, os cestos de junco de Forjães e o artesanato de cortiça alentejano.

 

Pretende esta obra, dessa forma, contribuir para uma mais atenta valorização do património botânico e cultural imaterial português?Sim, para se valorizar é necessário conhecer e este livro deseja ser uma obra introdutória ao uso cultural das plantas, de forma a valorizarmos não só o nosso património cultural, mas as plantas que estão subjacentes a muitas das nossas tradições, materiais e imateriais.

 

De que forma descreveria o património botânico de Portugal e, nomeadamente, o do Alentejo?Considerando o que tem sido a evolução sociocultural europeia, no último século, poderemos afirmar que Portugal mantém um elevado número de tradições que utilizam as plantas. A transformação do mundo rural determinou a extinção de muitas práticas culturais e, com elas, o fim do uso de algumas plantas. Por exemplo, quando a ceifa deixou de ser manual, os canudos de cana (dedeiras) deixaram de ser necessários. Mas as tradições reinventam-se e, agora, as dedeiras, os tarros ou os cocharros podem ter um novo papel, não de uso quotidiano, mas como símbolos da história e da cultura de uma região. 

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