Diário do Alentejo

“Um mundo onde se abraçam pessoas e espancam animais”

29 de setembro 2023 - 10:00
Não quero morrer aqui é o mais recente livro de Carlos Filipe
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Licenciado em Português-Inglês. Fotógrafo. Tem exposto em várias localidades do País e publicado o seu trabalho em revistas. Explora várias áreas fotográficas, como a fotografia de animais de estimação. Tem o seu estúdio em Lagoa, no Algarve, e colabora com associações de defesa dos animais, recebendo animais resgatados, que fotografa de forma a impulsionar a sua adoção. Lançou, em 2019, o livro Amigos (im)Perfeitos. Visita escolas para falar sobre o seu trabalho, tentando incutir nas gerações mais novas a importância da diferença e da inclusão.

 

Texto| José Serrano

 

Com edição de autor e tiragem limitada, foi recentemente publicado o livro Não quero morrer aqui, da autoria de Carlos Filipe. A obra apresenta, através de textos e fotografias, vidas de animais, “com diferenças e semelhanças que os unem e distinguem”

 

Qual o trabalho por detrás da elaboração deste livro? Este livro é uma visita guiada aos mais recentes anos da minha vida, a fotografar animais para impulsionar a sua adoção. Vi-me mergulhado nas suas histórias e resolvi levar às pessoas as duras realidades que cada um deles esconde. É uma viagem para mostrar um mundo onde se abraçam pessoas e espancam animais. Onde se beijam os filhos e afogam os gatos. Onde se deixa o animal acorrentado no quintal, sem comer. Todos estes animais têm um pedido – não quero morrer aqui.

 

Pretende esta obra repor a dignidade de alguns animais, vítimas de indiferença ou maus tratos?Este livro é uma lição de vida para todos nós. Todos estes animais são guiados pelo desejo de sobreviver, mesmo depois de lhes terem roubado a capacidade de andar, a confiança nas pessoas, a saúde. Apesar do mundo ter desistido deles, continuam com o coração disposto a receber amor. Muitos ensinam-nos que, muitas vezes, queixamo-nos de “barriga cheia”, quando eles perderam tudo e continuam a querer avançar.

 

Considera que, regra geral, os portugueses tratam os seus animais de estimação condignamente?Observo francas melhorias em relação à forma como os animais são encarados. Existe uma crescente consciencialização da forma como devemos tratar os animais. Há uma maior preocupação em levar os animais ao veterinário, existem cada vez mais espaços pet-friendly e alojamentos para animais. Os protocolos para ajudar a esterilizar animais de rua continuam em funcionamento, facilitando o controlo da população errante. Por outro lado, persistem os episódios de abandono de animais no período de férias, os casos impunes de maus tratos a animais, perante uma lei sem penas credíveis para quem os maltrata, e o, ainda presente, pensamento de muitas pessoas que os animais não necessitam de cuidados médicos e que conseguem viver com o mínimo possível.

 

O que aconselharia, prudentemente, a quem pense adotar um cão ou um gato?Muitos dizem que devemos adotar um animal para nos fazer companhia, mas não nos devemos esquecer que também esse animal a precisa ter. Sem tempo disponível, não é boa ideia adotar um animal, que irá passar os dias sozinho. Devemos adotar de acordo com o espaço que temos, tendo em atenção o porte do animal, e as adaptações que estaremos disponíveis a fazer em casa, porque, por exemplo, os gatos não podem ter acesso à rua e é necessário vedar as varandas para evitar acidentes. A parte financeira é igualmente importante, porque os animais necessitam, além de vacinas e alimentação, de consultas veterinárias, com custos altos. São estes os três prismas que devemos pesar, antes de adotar.

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