Diário do Alentejo

“Um copo de branco, por favor!”

25 de setembro 2023 - 08:00
As 100 melhores tascas de Portugal, um guia de António Catarino e Rui Cardoso
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António Catarino, de 68 anos, natural de Cuba

Jornalista, com mais de quatro décadas no ativo, frequentou o liceu de Beja, antes de rumar ao Porto, onde está radicado “há longos anos”. Iniciou a carreira no já desaparecido “O Comércio do Porto”. Colaborou em todas as publicações nacionais de automobilismo, escreveu em “A Bola” e foi colaborador da “Rádio Renascença/RFM”. É comentador da “RTP” e, desde 1996, está ligado à “TSF”, onde é autor da rubrica “À Mesa”. Tem obra publicada no domínio de viagens, roteiros e desporto automóvel.

 

Texto José Serrano

 

Foi lançado no passado dia 12, o livro As 100 melhores tascas de Portugal, da autoria de António Catarino e Rui Cardoso. Um guia essencial, de acordo com os autores, “para quem quer comer bom e barato na melhor tradição portuguesa”.

Preservam estes 100 lugares de restauração a sua genuinidade ou tiveram, maioritariamente, de se adaptar aos tempos modernos?A adaptação foi o “seguro de vida” da maioria de espaços tradicionais, rústicos e simplórios, que resistem, com denodada teimosia, à pressão dos novos tempos exercida pelo fluxo turístico, “rolo compressor” que acaba, não raras vezes, por assumir o papel de descaracterizador de locais e tradições. A alma genuína desses espaços tradicionais ainda se encontra em Portugal, mas na forma de restaurante tradicional, que assegurou a continuidade do negócio familiar iniciado com uma tasca. Neste guia, a designação “tasca” tem muito de carinhoso e nada de depreciativo para a maioria desses estabelecimentos, herdeiros da tradição, onde é possível saborear uma refeição, tendo em atenção a conta, limitada a 20 euros.

 

Quais os pratos que uma boa tasca portuguesa deve, absolutamente, ter?Os petiscos, uma rica e muito saborosa tradição lusitana, devem estar na primeira linha da oferta, tendo em conta a tradição gastronómica da região. Portugal é um país com uma incrível diversidade gastronómica, assente num receituário fantástico, que tira o melhor partido dos produtos locais. É um património único que urge preservar. Por isso, tasca que se preze tem de servir, a norte: rojões, alheira, salpicão, carne em vinha de alhos, salada e bolinhos de bacalhau, morcela, cebola doce embebida em vinho verde tinto, papas de sarrabulho, feijoada. A sul: queijos, enchidos, escabeche, perninhas de rã, orelheira, cabeça de borrego assada, cachola, moelas, vinagrada com carapaus fritos, iscas.

 

Qual o estado da arte das tascas portuguesas?Num setor tão volátil como o da restauração, condicionado com a falta de pessoal, as exigentes imposições legais ou o cansaço acumulado dos mais velhos, num interior cada vez mais despovoado e ostracizado, resistir é, em muitos casos, um imperativo de consciência. Há, todavia, uma lufada de ar fresco com alguns projetos, interessantes, de gente jovem, que pretende manter a tradição das velhas tascas, bebendo a mesma filosofia, mas adotando uma outra forma, mais “modernaça”, expressa na designação “taska”.

 

Como estamos de quantidade e qualidade de tascas no Alentejo?O Alentejo é, a par do Minho, uma das regiões onde as tascas, ainda em número razoável, conservam uma aura de tradição. Na região, há tabernas e adegas pejadas de estórias vividas em tempos de penúria, desfiadas ao balcão, entre um copo e outro, potenciando o brotar espontâneo do cante, guardando memórias que dão força ao presente. É levar o petisco e esperar que o copo fique cheio. Para desfrutar de uma ambiente único, autêntico, no Alentejo.

 

Numa tasca, qual o primeiro pedido que devemos fazer para sermos “romanos em Roma”?Um copo de branco, por favor!

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