Diário do Alentejo

“O croché, sendo artesanato, também é arte”

25 de setembro 2023 - 09:00
Casa do Alentejo expõe EntreLaços, da autoria de Saudade Campião
Foto | D.R.Foto | D.R.

Saudade Campião tem de 56 anos e é natural de Vidigueira. A sua primeira experiência profissional foi como locutora na “Rádio Vidigueira”. Os seus programas radiofónicos apresentavam discos pedidos, passatempos, rádio novela e animação, no geral. Em 1998, após 30 anos a viver na sua terra de origem, mudou-se para Beja. Tornou-se proprietária de um restaurante e passou a exercer a profissão de cozinheira, com a responsabilidade da gestão e dinamização do espaço.

 

Texto | José Serrano

 

EntreLaços é o título da exposição de peças artísticas de croché, da autoria de Saudade Campião, que pode ser vista na Casa do Alentejo, em Lisboa, até ao final deste mês. A mostra faz parte do cartaz de festejos que marcam o centenário da instituição, embaixadora da região na capital do País.

 

Qual a origem desta sua arte, responsável por esta exposição?

 

Há já alguns anos que ocupo o meu tempo livre fazendo croché. É uma prática que me dá bastante prazer, pelo facto de estar sempre a criar peças novas. Nesses momentos tenho sempre a impressão de que o tempo parou. É uma sensação boa, tornando-se, também, terapêutica, em alturas em que nos encontramos mais aborrecidos com a vida. O croché tem sempre que ser feito por gosto e não por obrigação.

 

Os colares de croché que apresenta, nesta mostra, têm nomes de mulheres. Quem são estas mulheres e o que pretendeu ao nomear as suas peças de arte?

 

Eram as mulheres lá de casa que eu via a fazer croché, quando eu era miúda. Talvez seja esse o motivo pelo qual eu vejo estes trabalhos no feminino e essa a razão que me levou a fazer colares e a dar-lhes nomes de mulheres. Resolvi, também, fazer uma pequena homenagem a algumas mulheres que ficaram na história por atos importantes que praticaram nas suas vidas, tais como Catarina Eufémia, Florbela Espanca ou Valentina Tereshkova [astronauta russa, a primeira mulher a ir ao espaço, em 1963].

 

Há um fio condutor que une todas estas peças de croché ou cada uma delas é perfeitamente independente de todas as outras?

EntreLaços é uma exposição composta por 16 trabalhos. Sendo todas as peças diferentes têm em comum os laços que, entre elas, acabam por contar histórias de vida, entrelaçadas.

 

É reconhecida, em Beja, como chef da Taberna a Pipa. “Bebe” o seu trabalho artístico, em croché, alguma influência dos produtos ou dos pratos da gastronomia alentejana, ex-líbris do seu restaurante?

 

Inspiro-me muito nas memórias, nos momentos e nas pessoas que recordo, com muito carinho e saudade. Também me inspiram as paisagens, as flores, os aromas da natureza e todas as estações do ano. No restaurante, a inspiração vem, um pouco, das ervas aromáticas, que estimulam bastante os nossos sentidos e que, por isso, me levam a criar diferentes trabalhos.

 

O que mais retira, pessoalmente, deste seu trabalho artístico?

Esta exposição é a realização de um pequeno sonho que, para mim, fazia sentido. Ansiava por dizer às pessoas que há outras formas de fazer croché. Que, sendo artesanato, também é arte e que, assim sendo, também se deve mostrar, para que não fique esquecida numa gaveta. Foi muito gratificante a realização deste trabalho.

 

O que mais gostaria que as pessoas sentissem ao admirar estas suas obras de arte?

Foi muito bom ouvir de algumas pessoas que, depois de terem visto os meus trabalhos, sentiram uma enorme vontade de voltar a fazer croché. Disseram-me que foi como se tivessem voltado atrás no tempo, trazendo-lhes memórias felizes e boas recordações. Houve até quem, visitantes da exposição, me tivesse manifestado a vontade de aprender a fazer croché. 

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