Diário do Alentejo

Imagens que tocam “em problemáticas que geram preocupação”

05 de maio 2023 - 11:30
Foto | DRFoto | DR

André Boto tem 38 anos e é natural de Silves. Tirou a licenciatura em Artes Decorativas no Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) e atualmente é fotógrafo freelancer, trabalhando nos seus projetos de autor e para clientes nas áreas comerciais da indústria, da hotelaria e de produtos.

 

Desde sempre se interessou pelas artes e ocupava o tempo admirando autores como M.C.Escher, Magritte ou Dalí, fascinando-o a ideia de ser possível “criarmos os nossos próprios mundos”. Começou a fotografar aos 18 anos, na rua, para que as fotografias o ajudassem nos desenhos a carvão que fazia. Hoje, desenha esboços que o ajudam nas suas criações fotográficas.

 

Em abril, foi distinguido, novamente, pela Federação Europeia de Fotógrafos Profissionais (FEP), como “Fotógrafo europeu do ano 2023”. A competição, que decorreu em Praga, teve a participação de mais de 300 fotógrafos europeus, com imagens distribuídas por 12 diferentes categorias a concurso, avaliadas por um painel de 30 juízes.

 

Texto José Serrano

 

Depois de ter vencido em 2010, esta é a segunda vez que é galardoado com a distinção máxima da competição, um facto inédito na história deste prémio. Que significado tem, para si, este feito?

Tem um grande significado, principalmente, porque, das duas vezes, decidi criar imagens começando do zero. Trabalhei na criação das ideias, nos esboços, na parte fotográfica e na pós-produção e é gratificante sentir que o fruto desse trabalho é reconhecido por júris de competições internacionais de relevo. Isso ajuda a que os meus clientes tenham confiança que eu seja capaz de superar os desafios que me colocam, seja para fotografar um espaço industrial ou um hotel, por exemplo.

 

Quais os temas por si abordados nas três imagens que lhe valeram a distinção máxima?

Na imagem, mais pontuada, do pescador que pesca plásticos, há dois temas implícitos, o da poluição e o da escassez de água. O solo desta imagem foi captado na barragem da Bravura [Lagos], quando há um ano tinha apenas nove por cento de cota de água. Foi impressionante caminhar sobre aquela extensa área de chão rachado, com uma total ausência de água, num silêncio aterrador. Na imagem da guerra, provavelmente, a mais complexa e com mais elementos que criei até hoje, a ideia foi a de mostrar aquilo que é “O jogo da vida” (que serve de título), na qual somos apenas marionetas. O objetivo não é fazer referência a nenhuma guerra em específico, mas, sim, a todas, mas claro que a guerra na Ucrânia acabou por me levar à criação desta imagem. A imagem da menina que brinca inocentemente na areia, no meio da poluição, lança a questão sobre qual o futuro que queremos para aqueles que colocamos neste mundo, no meio de fumos tóxicos, plásticos, beatas, latas, etc...

 

Qual a principal característica invulgar do seu trabalho que deixou “rendido” o júri?

Talvez o lado emocional de tocar em problemáticas que geram preocupação, como a poluição, a guerra, o futuro das crianças no mundo, utilizando elementos com significados diretos, não havendo muita subjetividade. E por haver um lado etéreo nestas imagens, pois, ainda que sejam fotomontagens, têm um acabamento algo realista – sente-se que estas situações poderiam acontecer. Terão sido estes vários pontos a influenciar o júri na sua decisão.

 

Foi aluno da licenciatura de Artes Decorativas do IPBeja. Gostaria de expor o seu trabalho nesta cidade?

Costumo fazer pouquíssimas exposições individuais, embora já tenha exposto, individualmente, na Casa da Cultura de Beja, no distante ano de 2010. Em todo o caso, expor em locais que me trazem memórias, e caso a exposição seja inserida num projeto ou local aliciante, será sempre uma hipótese a considerar.  

 

Comentários