Diário do Alentejo

“As emoções precisam ser exteriorizadas ou andam a ‘moer’ connosco”

14 de abril 2023 - 10:30
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Francisca Graça tem 76 anos e é  natural de Selmes, no concelho de Vidigueira. Frequentou a escola primária em Selmes, tendo transitado, mais tarde, para o colégio da Vidigueira, terminando o 5.º ano liceal no colégio das Freiras Doroteias, em Évora. A vida encarregou-se de destiná-la ao Algarve, tendo trabalhado em Faro até à data da sua reforma, sendo a capital algarvia, ainda hoje, a sua residência. Desde sempre interessada por literatura, a escrita, “quase como consequência” é também um interesse seu. Por duas vezes levou à Casa do Alentejo em Toronto, no Canadá, a sua poesia e a de alguns autores alentejanos.

 

Recentemente apresentou, na Biblioteca Municipal Doutor Palma Caetano, em Vidigueira, o seu novo livro de poesia intitulado O Sal das Palavras.

 

Texto José Serrano

 

Como nos apresenta este seu livro, que marca a sua estreia como poetisa?

A edição deste livro foi quase como que uma brincadeira com a Dina Lapa, que está à frente do programa “Quando a Poesia Acontece”, na Biblioteca de Faro. Costumo ir sempre. O programa escolhe um autor e uma frase, convidando a escrever sobre ambos. A Dina Lapa incitou-me na publicação do livro, assim como a Maria José Fraqueza, também ela poetisa e frequentadora do programa.

 

De que forma a necessidade de registar emoções numa página em branco está presente no seu quotidiano?

Os pensamentos levam às emoções e estas precisam ser exteriorizadas ou andam a “moer” connosco. Aí surge a inspiração poética e a capacidade de escrita, que por vezes não cumpre as regras da poesia clássica. Hoje em dia, muitos poetas vão para a poesia livre, com regras mais fáceis. Concorri, e ainda o faço, a jogos florais, onde as regras da poesia clássica têm de ser cumpridas. Habituei-me a tentar segui-las na medida do meu possível. Ganhei alguns prémios, primeiros lugares na prosa.

 

De que modo a sua condição de alentejana influencia o seu pensamento criativo?

Os alentejanos têm fama de pensar muito. Bastantes anedotas há nesse sentido e eles, com o seu bom humor, brincam com elas. Será esse sentido de humor que me leva para a poesia humorística, que aprecio, e que esta me arraste para toda a outra? Estou respondendo à pergunta com outra pergunta, a mim mesmo. Há coisas que nos acontecem sem que saibamos explicá-las.

 

O que mais gostaria que esta sua poesia levasse, a quem a ler?

Na minha poesia há sempre algo a comentar, a pensar, a filosofar. Procuro que a mesma não seja vazia de conteúdo e só tenha nela as palavras que o poeta considera poéticas. Justificando-me, junto os votos de Páscoa que publiquei [na passada semana] para os meus amigos e que comecei a escrever sem qualquer intenção poética, embora ache que, sem me aperceber, consegui pôr poesia numa banal mensagem, que faço extensiva: Não sei porque a Páscoa tem/Os ovos no seu menu!/Que eles sejam/ “Estrelados”/Achocolatados/Vos deem felicidade/Amor, capacidade/Na saúde, na bondade/Com Paz em bandeja/O cabrito na assadeira/Seja a Páscoa uma bandeira/Para todos vós.

 

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