Diário do Alentejo

“É urgente preservar o património histórico-cultural”

16 de janeiro 2023 - 12:00
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Francisca Lopes Bicho tem 73 anos e é natural de Cuba, no concelho de Beja. Desde sempre que esteve ligada à vila onde nasceu, ainda que tivesse feito estudos em Lisboa e trabalhado em Beja. Foi Professora de História em Beja, no Liceu Nacional de Diogo de Gouveia, onde também exerceu a função de diretora pedagógica de um centro de formação. É professora voluntária na Universidade Sénior de Beja, desde a sua fundação, em 2007. Atualmente, investiga, escreve, colabora com entidades e pessoas e é presidente da direção da Associação Cultural Fialho de Almeida, com sede em Cuba.

 

Recentemente apresentou, na Casa Fialho de Almeida, em Cuba (Beja), o seu mais recente livro, intitulado Gente da Nossa Terra - Memórias de Cuba.

 

Texto José Serrano

 

Como nos apresenta esta sua obra?

Trata-se de um livro sobre pessoas que, apresentadas em jeito de notas biográficas, em nome individual ou no coletivo, constituem memórias sobre a comunidade e realidades vividas. A comunidade de Cuba, à data da implantação da República, é aludida no primeiro texto. Os textos foram escritos com base em fontes e bibliografia, pretendendo-se que os mesmos sejam de fácil leitura, para todos.

 

É, assim, esta obra, um elo que se pretende de ligação entre a memória histórica, o presente e o futuro?

Sim. Na verdade, a memória histórica, relacionada com factos, pessoas e épocas mais recuadas ou mais próximas, é trazida ao presente, e alguns dos leitores irão, porventura, recordar, reconhecer ou descobrir informação nova, enquanto em outros casos será essencialmente descoberta. Por outro lado, podemos considerar que este livro é um modesto contributo para que no futuro haja memória(s), assim seja explorado pela família, pelos mais velhos ou professores, junto dos mais novos.

 

Como classifica a importância desse exercício de recuperação do passado, para a preservação da identidade de uma comunidade, de um povo?

Considero que este subsídio e quaisquer outros exercícios de recuperação do passado são de toda a importância, para manter viva a identidade de uma comunidade, pois sem Memória não há História, sendo absolutamente fundamental que todos se revejam nos elementos de um património histórico-cultural comum que, a todos os níveis, é urgente preservar.

 

Reconhece, preservados, na vila de Cuba, alguns dos elementos identitários que apresenta neste regresso ao passado?

Os tempos são bem diferentes de outros que passam pelo livro, em particular em termos socioeconómicos e políticos, pelo que há alterações profundas nas formas de vida, na composição e relações sociais. Contudo, o cante em grupo, que remonta aos anos 30 do século passado, continua a unir as pessoas; a poesia popular continua a ter gente que a escreve ou diz, que vai tentando manter uma tradição que entronca no grande poeta Manel Castro; as tabernas são atualmente espaços e rotas que asseguram alguma vitalidade, embora nada tenham a ver com as tabernas que foram espaço de convívio de jornaleiros, esquecendo fomes entre copos e cante – é importante que, para além da vertente recreativa e turística, isso seja assinalado, como parte da memória de tempos difíceis, pouco conhecidos pelos mais jovens.

 

O que mais deseja que este livro desperte aos seus leitores?

Desejo que o livro seja de fácil leitura, permita a recolha de informações e constitua motivação para debate. Em suma, e partilhando o que foi dito pelo amigo [António José Queiroz] que escreveu o posfácio, desejo que a leitura constitua um “raio de luz” que ilumine o caminho para que os leitores possam vir a aprofundar a História local.  

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