Diário do Alentejo

“As crianças fazem as coisas ao seu ritmo, não ao nosso”

21 de outubro 2022 - 12:00
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Mara Alves tem 39 anos e é natural de Garvão, concelho de Ourique. É mestre em Jornalismo, Comunicação e Cultura e passou, em Portugal e na comunidade portuguesa em Inglaterra, por diversos meios de comunicação social, tendo sido repórter e produtora na “RTP 2”, “RTP Internacional” e “TVI”. Com o nascimento do filho, a sua história mudou e ganhou um novo objetivo: educá-lo da melhor forma. Descobriu a pedagogia Montessori, pela qual se apaixonou e se formou. Hoje é consultora em Montessori.

 

Texto José Serrano

 

De que forma nos pode apresentar a Montessori, pedagogia educacional divulgada pelo seu podcast?

Respeitar a criança, os seus interesses e o seu desenvolvimento são premissas desta pedagogia. Atualmente, a imposição de atividades formatadas ganham espaço num mundo onde não há tempo para a individualidade de cada um. Montessori resiste numa vontade de dar a volta a esse sistema: observar, respeitar e trabalhar com cada criança, promovendo a independência e uma maior consciência no modo como educamos.

 

Considera existir, atualmente, um excesso de zelo da parte dos encarregados de educação para com os seus educandos, que lhes poderá prejudicar o prazer da brincadeira e a capacidade de aprendizagem?

Sim, penso que por duas razões: amor e medo. Os pais fazem tudo para que nada de mal aconteça aos filhos, é natural. Contudo, há desafios cruciais para o desenvolvimento. Se fizermos tudo pelas crianças não nos podemos queixar que, em adultos, nada saibam fazer! Há que deixá-las subir às árvores, calçar os sapatos ou vestirem-se sozinhas. São pequenas ações, mas importantes para a independência e autoestima. Por isso, há que deixar fazer, confiar e ter paciência. As crianças fazem as coisas ao ritmo delas, não ao nosso.

 

A pedagogia Montessori pode ser implementada para além das escolas, no dia-a-dia das famílias, nas casas de cada um de nós?

Sim, pode. No entanto, exige preparação e formação. Com informação, saberemos o que fazer quando as crianças têm determinadas reações. Atualmente, a vivência das crianças está dominada pelo uso de telemóveis e ecrãs em geral – as crianças ficam quietas, isso agrada aos pais, mas tem consequências. É urgente, incluir as crianças nas tarefas quotidianas (lavar a loiça, limpar…), mas também levá-las para a natureza, explorarem e sujarem-se.

 

Que papel poderá este novo paradigma educacional vir a representar no futuro das sociedades, em prol de comunidades mais felizes?

Maria Montessori, mentora do método, descobriu: as crianças absorvem tudo, passam por fases de desenvolvimento e por períodos sensíveis (linguagem, movimento, etc.). Ignoramos tudo isso! Como sociedade queremos que as crianças sejam de determinada forma, fechadas em rótulos e modelos de aprendizagem. Isso leva a relações conflituosas, entre pais e filhos, numa luta de poder, onde as birras são constantes. As crianças precisam de limites, mas também que respeitemos o seu desenvolvimento. Ignorar isso é ignorar a vida e o futuro da humanidade.

 

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