Diário do Alentejo

“Dá-me muito prazer divulgar Beja, a minha cidade”

14 de outubro 2022 - 13:00
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Arsénia Estevens tem 71 anos e é natural de Baleizão, concelho de Beja. Fez a quarta classe na aldeia onde nasceu, tendo ido depois viver para Beja, onde completou o 12.º ano de escolaridade. Desempenhou as suas atividades profissionais na Administração Regional da Saúde. Tem quatro irmãos e um filho, o Francisco. Depois de se ter reformado, tirou a carta de artesão. É presença assídua em todas as iniciativas, nas quais pode mostrar o seu trabalho artesanal – “As entretengas da Arsénia” – e contribuir para a divulgação de Beja e do Alentejo.

 

Recentemente foi distinguida, na Feira Internacional de Artesanato (FIA) 2022 com o prémio de melhor peça de artesanato tradicional, pela boneca Soror Mariana Alcoforado, feita de tecidos e de lã, que se faz acompanhar das famosas Cartas Portuguesas.

 

Texto José Serrano

 

O que sentiu ao receber esta distinção, num certame internacional?

Fiz uma bonequinha, que não é bonita nem é feia, mas representa uma figura típica da nossa cidade de Beja. Como tenho a carta de artesão, a Cearte [Centro de Formação Profissional do Artesanato] convidou-me para estar presente na FIA e eu, com muito esforço, fui – não tenho carro e carregar com as coisas para lá foi um desafio enorme. Depois de lá ter as coisas expostas, andou um júri a vê-las e acabou por me dar um papelinho – importante para mim e acho que também para a nossa cidade. Senti orgulho e felicidade, porque também passava por lá muita gente da nossa região. Até aconteceu uma senhora ter-me comprado uma “Mariana Alcoforado”, para uma amiga que tem o mesmo nome da freira. Achei isso muito giro.

 

E como é que resolveu essas dificuldades logísticas de ir até Lisboa?

Para lá, uma amiga minha levou-me metade das coisas e a outra metade levei eu no autocarro da rodoviária. Para cá, a Câmara de Beja foi-me buscar.

 

As suas criações artesanais – aventais, talegos, toalhas, pegas, sacos e outras mais, estão ligadas ao património do Alentejo, através de receitas típicas, ditados, frases e de figuras icónicas. O que mais pretende com estas características, associadas ao seu trabalho?

Na FIA tinha lá um taleguinho pequenino, a preto e vermelho, e eu explicava que são as cores da nossa cidade. Quem o comprasse levaria umas sementinhas de coentros ou um raminho de poejos – e não queira saber a graça que estou a receber de resposta, ao enviarem-me fotografias dos coentros, já espigados. Dá-me muito prazer divulgar a minha cidade, porque tal como Beja é muito importante para mim acho que também pode vir a ser importante para outras pessoas. O meu trabalho artesanal é uma demostração do muito amor que a ela e ao Alentejo lhes tenho.

 

Quais as peças que mais vende e as que mais prazer lhe dá fazer?

Todas as peças que faço são um desafio, umas dão mais, outras menos, trabalho. Quem mais me compra são pessoas da região, que tiveram de abalar – “ai, olha a receita da açorda e das migas, que era como a minha mãe as fazia”. Também há quem que, ao passar por aqui, provam a nossa gastronomia e acabam por levar os aventais com as receitas. Levam também a cesta da Mariana, a boneca que a representa, as canequinhas de barro com a sua figura e muitas outras coisas que faço. Em todas elas eu ponho o cunho da nossa cidade, para que falem de Beja.

 

A quem dedica este prémio?

Quem deu asas a isto foi o [Leonel] Borrela, ele é que começou a evidenciar a Marina Alcoforado. Dedico à nossa cidade, aos habitantes daqui e ao Alentejo. A boneca não é minha, é de nós todos.

 

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