Diário do Alentejo

"Não havia no nosso país investigação aprofundada sobre os cuidados em fim de vida" nos lares de terceira idade

07 de outubro 2022 - 12:00
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Cristina Galvão tem 63 anos e é natural de Beja. É licenciada em Medicina, especialista em Medicina Geral e Familiar e pós-graduada em Medicina da Dor, em Cuidados Paliativos Pediátricos e em Cuidados Paliativos a doentes não oncológicos, tem competência em Medicina Paliativa e em Geriatria e é médica da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Beja+ da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo.

 

Recentemente concluiu o doutoramento em cuidados paliativos, na Universidade de Lancaster (Reino Unido) com a tese “Developing end-of-life care at a Portuguese nursing home through participatory action research”. O trabalho de investigação foi aprovado, por unanimidade, sem correções, e foi a mais alta classificação atribuída pela Universidade.

 

Texto José Serrano

 

O que a motivou a realizar este doutoramento, que investiga acerca dos cuidados em fim de vida nos lares de terceira idade e estruturas residenciais para pessoas idosas, em Portugal?

Apesar de milhares de pessoas, particularmente as mais idosas e frágeis, viverem e morrerem em lares, não havia no nosso país investigação aprofundada sobre os cuidados em fim de vida, nestas instituições. Essa lacuna, numa área tão importante da prestação de cuidados, não só sociais, mas principalmente de saúde, foi a razão desta investigação, que abordou as necessidades dos cuidadores a diversos níveis – ao cuidar, de comunicação, de formação –, bem como os aspetos culturais que influenciam a prestação de cuidados.

 

Quais as conclusões mais inesperadas a que chegou, neste estudo?

Entre as conclusões encontra-se a necessidade de cuidados adaptados a cada um dos residentes, a nível prático, espiritual ou afetivo, que promova a manutenção da dignidade da pessoa vulnerável. Para tal, os cuidadores necessitam de mais tempo para estar com os residentes, para os ouvir e apoiar. Isso só será possível se as equipas que trabalham nos lares tiverem competências no cuidar, se sentirem apoiadas na prestação de cuidados e se as instituições tiverem dotações de pessoal adequadas às necessidades dos residentes. A conclusão mais inesperada tem a ver com o impacto que a morte de um residente tem naqueles que vivem e trabalham nestas instituições. Quando a morte de um residente não é comunicada, ou o é de forma desadequada ou desrespeitosa, tem um impacto negativo muito grande. É importante que todos possam exprimir o que sentem face a cada uma das perdas e vivenciar o luto de uma forma adequada. Quando isto não acontece leva a uma acumulação de perdas não valorizadas e de stress nos profissionais das equipas dos lares, que se reflete nos cuidados prestados.

 

Pode este estudo vir a influenciar a implementação de novos planos de ação, na região do Baixo Alentejo, no âmbito dos cuidados paliativos?

Será importante que o trabalho possa levar não só ao aparecimento de mais investigação dentro desta área, mas que tenha implicações práticas ao nível das instituições. E isso passa pela ação concertada tanto da Segurança Social como da Saúde, em todo o País, e, por isso, o trabalho será em breve divulgado junto das entidades competentes. É minha intenção dar continuidade a este trabalho e contribuir para apoiar as instituições que queiram promover um melhor cuidado aos seus residentes e apoiar de forma diferenciada os seus funcionários.

 

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