Diário do Alentejo

“Os Gamas são uma inspiração para os defensores da região alentejana”

30 de julho 2022 - 17:15
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Francisco do Ó Pacheco tem 74 anos e é natural de Sines. Fez o curso liceal no Externato de São José, em Santiago do Cacém e o curso de sargentos milicianos na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas. Cumpriu uma comissão de serviço na guerra do ultramar, em Angola, de 1970-1972. Bancário de profissão, foi presidente da Câmara Municipal de Sines, entre 1976 e 1997, tendo feito ainda parte dos órgãos sociais das associações de municípios de Setúbal, Beja, Litoral Alentejano. Foi também diretor do “Diário do Alentejo”. Autor literário, é sócio da Associação Portuguesa de Escritores e da Sociedade Portuguesa de Autores.

 

No âmbito das comemorações dos 525 anos da partida da expedição de descoberta do caminho marítimo para a Índia, foi recentemente apresentado, em Vidigueira, o livro Vasco da Gama – O Bastardo Indomável e outras Estórias, o 11.º trabalho literário, entre crónica, poesia e romance, da sua autoria.

 

Texto José Serrano

 

Como nos apresenta este seu livro?

São estórias do Alentejo, sendo a de Vasco da Gama a mais desenvolvida – creio que pela primeira vez se escreveu a vida do Gama, do nascimento à morte. Aliás os Gamas vêm, no século XV, como alcaides, de Elvas para Sines, onde nasce o navegador que, por grave diferendo com o mestre da ordem de Santiago, acaba por ser expulso de Sines pelo rei D. Manuel, indo viver para Évora. Depois, foi alcaide de Nisa e, finalmente, conde da Vidigueira. Os Gamas são uma inspiração para os defensores da região alentejana.

 

São as fontes desta obra provenientes de uma articulação entre a cultura popular e a academia?

Existem estórias que são apenas lendas e outras que obrigam à investigação, como foi o caso dos Gamas, articulando-se, depois, a imaginação do escritor e a tradição oral, onde a história não consegue factos documentais.

 

O que podemos depreender pelo cognome que atribui ao navegador?

Estêvão da Gama terá tido dois filhos chamados Vasco da Gama. Um de uma criada e outro com Isabel Sodré, sua mulher. A pergunta que se faz é: “qual dos dois foi o comandante da armada que buscou o caminho marítimo para a Índia?” – a minha opção é pelo bastardo. A tradição oral de Sines diz que Vasco da Gama nasceu numa casa na antiga rua do Mar, a caminho do porto de pesca, o que ajuda a explicar a tese dos dois Vascos.

 

Sines, a sua terra natal, e Vidigueira, localidade onde apresentou este seu livro, “reclamam” a naturalidade de Vasco da Gama. Qual a sua opinião acerca dessa “disputa de berço”?

Nesse particular, há muito que acabaram as disputas, pelo menos desde os anos 90 do século XX, quando se geminaram entre si os municípios de Vasco da Gama – Sines, Vidigueira, Évora e Nisa.

 

Mais de cinco séculos após a partida de Vasco da Gama para a Índia, continuam os Descobrimentos Portugueses a ser reveladores da nossa essência primordial, enquanto povo?

Creio que o Portugal imperial se extinguiu – primeiro, com a independência do Brasil no século XIX e, depois, com as independências das restantes colónias ultramarinas. Poderíamos ter tentado uma comunidade lusófona, com forte pendor no desenvolvimento económico e cultural, mas não fomos capazes e acabámos entrando na Comunidade Europeia, que nos custou perdas de soberania e graves dependências políticas, económicas, financeiras e culturais. Os descobrimentos são o ponto mais alto da nossa História e os portugueses que os protagonizaram pouco têm que ver com os portugueses da atualidade.

 

 

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