Diário do Alentejo

Novas formas de cuidar no pós-pandemia
Opinião

Novas formas de cuidar no pós-pandemia

Olga Sousa, educadora de infância

14 de maio 2020 - 18:00

No dia 11 de março de 2020, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou oficialmente, o que poucos dias antes era apenas uma hipótese, estava em curso a pandemia provocado por um novo coronavírus. Nesta conjuntura, as mulheres passaram mais uma vez a estar na linha da frente, a nível familiar, profissional e social.

 

Devido a esta mudança nas dinâmicas e rotinas diárias, a pandemia aumentou as responsabilidades das mulheres no seio da família, perante novos desafios e alterações do quotidiano provocando também, um acréscimo do trabalho doméstico. O encerramento das escolas, creches e jardins de infância, implicou um aumento do tempo dedicado ao acompanhamento dos filhos, nomeadamente nas tarefas escolares, juntando-se ainda, em muitos casos, responsabilidades que se prendem com a prestação de cuidados e apoio a familiares idosos. Em suma, as mulheres estão mais sobrecarregadas.

 

Nesta ótica, a ONU já veio assumir publicamente que as mulheres “serão as mais afetadas por esta pandemia, mas também serão a coluna vertebral na recuperação das comunidades”, pois são muitas vezes impulsionadoras de ações solidárias, integrando ações de voluntariado, bem como outras de interesse social e comunitário.

 

Não obstante, outros são os casos em que a má gestão da situação de confinamento que lhes é exigida, face a outras preocupações como é o caso da situação laboral, que em muitas situações já era frágil e as suas consequências na vida familiar, faz surgir ou agudizar quadros de saúde mental complexos.

 

Outra dimensão das desigualdades sentidas pelas mulheres, neste período de pandemia, prende-se com a violência doméstica. Tal como reconheceu o secretário-geral da ONU, António Guterres, com o confinamento decretado pelo estado de emergência, “verificou-se um aumento expressivo da violência doméstica”, há muito considerada outra “pandemia mundial”. 

 

Esta é uma situação que constitui um grave problema vivido diariamente pelas mulheres dentro das suas próprias casas, agora intensificado por uma maior exposição devido ao confinamento com os agressores e ao isolamento social, tardando em denunciar a situação às entidades competentes com receio do risco de contágio.

 

Nesta lógica, também o Papa Francisco elogiou a coragem das mulheres neste momento tão difícil. Neste momento em que todos e todas são importantes e chamados a dar o seu contributo, em prol do bem comum, é tempo de refletir sobre novas formas de cuidar, devendo estas ser parte integrante de uma estratégia pós-pandemia que exige respostas coletivas assentes, na promoção de novas medidas de política pública direcionadas sobretudo para a proteção à família, à conciliação da vida pessoal, profissional e familiar, à igualdade e justiça social. Porque a seguir, será tempo de cuidar de quem cuida.

Comentários