Diário do Alentejo

Realidade
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Realidade

Vítor Encarnação, professor

23 de abril 2020 - 11:00

 

Algures entre a Utopia de Thomas More, que refere um país imaginário, onde um governo proporciona ótimas condições de vida a um povo feliz e a distopia 1984, de George Orwell, que nos mostra uma sociedade governada por um regime totalitário, em que os factos são distorcidos e impera censura e vigilância constante da população, existe uma coisa, mais abstrata do que parece, chamada realidade.

 

Ao contrário do inquestionável sentido que emana da palavra, não parecendo ela ser outra senão verdadeira, visível, de facto, a realidade é sempre interpretada a partir de um ponto de vista, e, felizmente para nós, as democracias permitem inúmeros pontos de vista de acordo com a nossa rigidez ou a nossa abertura de pensamento.

 

Entre a utopia e a distopia existe uma realidade chamada Portugal, território antigo, aberto ao desconhecido, pioneiro na adoção de alguns dos princípios mais nobres e mais estruturantes das sociedades humanistas, seguro, atualmente com uma das democracias mais consolidadas do mundo, mas sempre tão autofágico, tão curto de orgulho pelo que tem, tão crítico na análise que faz de si mesmo, tão descrente nas suas próprias capacidades.

 

A realidade é uma coisa relativa, tão relativa que até nos parece irreal e impossível que alguns, muitos, por vezes nos invejem. Lê-se nos Lusíadas: Que não é prêmio vil ser conhecido/ Por um pregão do ninho meu paterno.

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