Diário do Alentejo

Prognósticos
Opinião

Prognósticos

Luís Godinho

30 de março 2020 -

Nos tempos de incerteza que estamos a viver, sobretudo nestes, é prudente seguirmos o exemplo do ex-jogador do FC Porto, João Pinto, e dizer que prognósticos só mesmo no fim do jogo. A pandemia de covid- 19 ainda está longe de atingir o pico da curva epidemiológica, anunciada pela ministra da Saúde para o próximo dia 14 de abril, mas é justo sublinhar o modo como o primeiro-ministro tem conduzido de forma firme, mas igualmente serena, o combate contra um adversário que, em boa verdade, nem sequer conhecemos. E pronto, voltamos ao futebol, e a um frase dita há mais de 30 anos por Pimenta Machado, então presidente do Vitória de Guimarães, quando anunciou o despedimento do treinador René Simões, uma semana depois de ter garantido que não o faria: “O que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira”. Nem mais. O que é verdade hoje, na luta contra um adversário invisível e imprevisível que já fez milhares de mortos por todo o mundo, é que as medidas tomadas pelo Governo para tentar conter a propagação da doença, logo depois de os primeiros casos de infeção terem sido confirmados pela Direção-geral de Saúde, estão a produzir os resultados esperados. O encerramento de escolas e de atividades económicas não essenciais, o fecho de centros comerciais, de cafés, bares e restaurantes, a obrigatoriedade de permanência em casa, salvo as exceções previstas na lei, o cancelamento de todas as atividades sociais (como missas ou eventos públicos), culturais e desportivas, fez com que o crescimento, inevitável, do número de novos casos ficasse aquém das piores previsões. Pelo menos até agora. Em todo o caso, é cedo para validar a afirmação de Francisco Dionísio no “Público” desta semana. “O número de casos continua a crescer, mas a taxa diária a que isso acontece irá descer enquanto a quarentena se mantiver. Por outras palavras, a progressão da doença vai desacelerar”, garante este professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Repito: é cedo para dizer que assim será. Precisaremos de mais uns dias para confirmar que a curva epidemiológica não vai seguir o caminho da de outros países, como Itália (743 mortos só na última terça-feira) ou Espanha, e o crescente número de infeções em lares de idosos é um sinal preocupante. Mas temos, pelo menos, uma certeza, a de que entretanto se ganhou tempo para preparar as instituições de saúde para evitarem o colapso que, inevitavelmente, seria provocado por um crescimento exponencial do número de pessoas infetadas. Teremos, é certo, de “ter alguma paciência e manter o isolamento”. Teremos de continuar a reforçar os hospitais com a aquisição de ventiladores e a disponibilização de camas para doentes em cuidados intensivos. Mas esta, parafraseando Marcelo Rebelo de Sousa, é uma “guerra” cujos efeitos temos estado a conseguir conter, apesar do número de mortes aumentar todos os dias. Ainda assim, a preocupação no Baixo Alentejo é enorme. Sendo verdade que o despovoamento e o isolamento têm constituído uma espécie de “tampão” à disseminação de casos positivos, não é menos verdade que o envelhecimento populacional constituirá um fator de risco acrescido no momento em que se multiplicar o número de casos. 

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