Diário do Alentejo

O meu Baixo Alentejo
Opinião

O meu Baixo Alentejo

Jorge Rosa, presidente da Câmara Municipal de Mértola

03 de fevereiro 2020 - 11:05

Nasci, cresci e vivi, como diz a canção, e vivo, com um orgulho enorme de ser baixo-alentejano. Pertenço a uma região de enormes valores naturais, patrimoniais, religiosos, históricos, onde os naturais são pessoas excelentes, humildes mas convictas, hospitaleiras e amigas, capazes das maiores bondades. Mas é uma região que, tendo sempre figurado enquanto tal na divisão territorial portuguesa, como aprendemos na escola, pelos textos e pelos mapas antigos do todo nacional, passou a sub-região e está tendente a ficar absorvida num todo Alentejo, confirmando a Comissão Independente para a Regionalização, a chamada “Comissão Cravinho”, um país com cinco regiões plano, que é também a opinião do Governo.

 

E podemos perguntar, como é que isto aconteceu? Bem, a resposta pode não agradar muito. A verdade é que nunca nos conseguimos organizar devidamente, no Baixo Alentejo, para criar a ideia, e porque não o “lobbie”, de que o que faz sentido é o tal Baixo Alentejo a 18. Devíamos ter feito um trabalho de afirmação e funcionamento deste território, conseguindo complementaridades, na educação, na saúde, nas acessibilidades, nas organizações descentralizadas do estado central, e noutros temas, onde também a participação das autarquias neste processo não foi a melhor, pois aceitamos ter duas comunidades intermunicipais, a do Baixo Alentejo e a do Alentejo Litoral, como dois “Baixo Alentejos” separados, que não o são, nem nunca o foram, e nem nunca serão. O distrito de Beja inclui Odemira, e o real Baixo Alentejo só o será incluindo a nossa costa, os concelhos do distrito de Beja mais Santiago do Cacém, Grândola, Sines e Alcácer do Sal.

 

Mas, em minha opinião, o Baixo Alentejo não está “perdido”, muito pelo contrário, depende de nós fazermos um caminho de afirmação e complementaridade inteligente, com estratégia, como se diz neste nosso Baixo Alentejo, “com cabeça, tronco e membros”. Neste caminho as ações abruptas e impulsivas não vão ajudar a nada. A opinião que alguns, poucos, têm de “dar um murro na mesa”, de exigir só porque sim, de exigir com agressividade, não vai ajudar a nada. O Baixo Alentejo não é uma obra física, como uma estrada ou uma barragem ou um pavilhão desportivo, em que podemos realmente exigir usando algum músculo, e que por essa via conseguimos a sua inscrição no Orçamento do Estado para os próximos anos, ficando algures outra por fazer, pois a prioridade foi a nossa.

 

Neste tema podemos inventar slogans mercantis, dar murros na mesa, publicar coisinhas nas redes sociais, mas, verdadeiramente, só temos um caminho, e talvez uma única oportunidade, que não podemos correr o risco de perder, que é com inteligência, com diplomacia, com coragem, trabalhar uma estratégia para alguns anos, de afirmação e, sobretudo, de justificação do Baixo Alentejo que queremos. Temos tempo para isso, pois a regionalização ainda vai demorar uns anos, pelo que devemos assumir esta união. E genuinamente, pois encenarmos apenas que sim, com algum interesse por trás, seja económico ou político, como se faz por vezes em campanha, resulta inócuo, pois, quando esse interesse esmorecer lá fica novamente o tema adiado, e o Baixo Alentejo a “marcar passo”.

 

Baixo Alentejo sim, sempre, mas usando a história, unindo o território a 18, com vantagens em comum, com complementaridades, com ligação e interesses comprovados. No período de auscultação pública, do trabalho feito pela “Comissão Cravinho”, tive oportunidade de dar a minha opinião verbalmente ao grupo de trabalho, mas apenas foi enviado para a plataforma, em defesa absoluta do Baixo Alentejo, um único contributo escrito, por sinal de um baixo-alentejano do litoral, que todos podem consultar se acharem interessante. É nesse contributo que me revejo, e é com essa pessoa, e com outras que pensam da mesma forma, que podemos trabalhar para o Baixo Alentejo. Para o meu Baixo Alentejo, para o mesmo onde nasci, e para aquele a que tenho o enorme orgulho de pertencer.

 

E viva o Baixo Alentejo!

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