Diário do Alentejo

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Vítor Encarnação, professor

29 de janeiro 2020 - 16:05

Vocês nem imaginam o que alguns pais sofrem com os filhos que têm, dizia o homem sentado na cadeira da esplanada. Não, não falo dos idosos que estão abandonados nos lares ou em camas de hospitais, esse é um assunto já velho, estamos todos fartos de ouvir falar dele. Eu falo é de pais ainda jovens, homens e mulheres na flor da idade, gente bem colocada e moderna, é desses e do inferno que eles passam que eu falo.

 

Há pais, alguns com cursos e conhecimentos, que são escravos dos seus filhos, subjugados aos seus caprichos, autênticos bonecos nas mãos dos seus rebentos. Para que estes andem contentes os pais compram, para que não se aborreçam os pais dão, para prevenir zangas e amuos os pais oferecem.  E, no domínio privado da família, às vezes até à vista de todos, os filhos reinam, põem, dispõem, chantageiam, exigem, comportam-se como se a vida tivesse como único objetivo a satisfação dos seus caprichos.

 

Há pais, pessoas cultas, que não conseguem dizer que não, que não se atrevem a confrontar as suas crias e impor a sua vontade com receio que elas fiquem tristes e traumatizadas. Esta é uma nova e escondida violência doméstica de que ninguém fala, há vergonha destes pais e destas mães em assumirem a situação de vítimas dos tiranos que eles próprios educaram, e há, por norma, uma desculpabilização dos agressores quase sempre em nome do amor que têm por eles. 

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