Diário do Alentejo

Urgente
Opinião

Urgente

Vítor Encarnação, professor

18 de janeiro 2020 - 08:00

Ando à procura de poetas, tenho falta de alguém que me relembre o Alentejo, que me exclame de novo esta essência, só os poetas conseguirão voltar a explicar esta alma, eu sei que são escassos, sei que morreram quase todos, mas se souberem de algum, digam-me, digam-me que eu convido-o para a minha casa, eu convido-o para a minha vida, se for preciso passo com ele o resto da minha vida, ele que venha com tempo, o tempo é tão bom como as conversas e o vinho, ele que traga o tempo que eu ponho o resto, tragam-me um que se lembre da cal e da taipa, um que se recorde de invernias, um que me traga pardelhas, se eu gostava que ele me trouxesse pardelhas, um que perceba as planuras, os horizontes, o silêncio, as cismas, os ninhos dos pássaros, os próprios pássaros, o tempero das linguiças, um que saiba cantar modas, um que saiba contar partes, um que saiba matar porcos, um que saiba fazer jantares de lebre, um que saiba rir da desgraça, um que ainda traga uma faquinha na algibeira, um que use boina e botas cardadas, um que me ensine a terra, o sol, o céu, um que me faça uma quadra e me diga como é que eles se juntam à lua, arranjem-me um que saiba lavrar, um que saiba cortar pão, é tão importante saber cortar pão, as pessoas nem imaginam a importância que tem saber cortar pão. Eu ando à procura de poetas que não me deixem esquecer, se souberem de algum, digam-me. É urgente.

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