Diário do Alentejo

Interior
Opinião

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Carlos A. Cupeto, professor universitário

11 de dezembro 2019 - 17:40

O interior é aquela coisa a preto e branco, triste, envelhecida e pobre, em oposição a outra, colorida, jovem, alegre e rica, o litoral.  Já tudo aconteceu a favor do interior: um Movimento pelo Interior (ilustres personalidades, desde ex-ministros a autarcas, empresários e professores, como se nenhum deles jamais tivesse a ver com decisões sobre a governança do País), uma Unidade de Missão para a Valorização do Interior, e agora, com o atual governo, um emaranhado de ministérios e secretarias de Estado que se sobrepõem e atropelam pela nobre causa. Deseja-se “diferenciar positivamente o interior”. Antes disto tudo, em sucessivos ciclos de governação, já houve dezenas de cangalhadas destas. O resultado está à vista. Recordo que o anterior governo criou o Programa Nacional para a Coesão Territorial. Para que serviu?

Alguns factos: o interior tem tudo, está excelentemente infraestruturado; desde sempre, e cada vez mais, há famílias de estrangeiros que se instalaram no interior onde vivem ricas e felizes; emigraram 2,5 milhões de portugueses; 30 por cento da população do Luxemburgo são portugueses, este país tem um dos maiores PIB da Europa. Tão pouco nos faltou dinheiro para o interior, em variadíssimos e originais programas; o eurodeputado Zorrinho e ex-comissário Moedas sabem-no bem.

 

Sempre me interroguei sobre o que distingue um jovem casal de holandeses que há umas dezenas de anos se instalou no interior. São felizes e criam riqueza sobejante. Interrogo-me também sobre o que falta fazer ao inexcedível Armindo Jacinto, presidente de Idanha-a-Nova, para ter sucesso na revitalização da sua terra, uma das mais despovoadas do País.

 

Precisamente por iniciativa do autarca de Idanha, em dezembro de 2017, em Lisboa foi apresentada uma estratégia para o interior: o mundo rural e o desenvolvimento económico e social de Portugal, que o inevitável professor Augusto Mateus, coordenador da equipa autora, apresentou com o habitual entusiasmo. Para além do “mundo rural, porque sim”, digam lá que não soa bem, como sempre, nada mais. Tudo, mas tudo, sobretudo a realidade e os factos, conduzem-me cada vez mais a uma resposta: a cabeça das pessoas, isto é, a mentalidade, o nível de consciência. A isto chama-se atitude; os portugueses valorizam os bons automóveis e as luzes dos shoppings. A diferença é a atitude das pessoas, moldadas durante muitos anos pela educação e cultura. E isto, meus amigos, não se altera com movimentos e programas. Será que temos de continuar pobres?

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