Diário do Alentejo

Verde e azul, as novas cores da velha e cinzenta Europa
Opinião

Verde e azul, as novas cores da velha e cinzenta Europa

Rui Marreiros, gestor

21 de novembro 2019 - 15:40

Por estes dias, expressões como neutralidade carbónica, adaptação às alterações climáticas, economia circular, gases com efeito de estufa, microplásticos, escassez de água, cheias, secas, mobilidade elétrica, descarbonização da economia, energias alternativas, energias limpas, entre muitas outras, entraram definitivamente no nosso quotidiano. Entraram, não foi, de todo, por acaso e não vão sair nunca, nunca mais.

 

Passearemos (na verdade já passámos) a conviver definitiva e talvez diariamente com elas e a considerá-las como ponderadores essenciais para muitas das nossas decisões. Escolhas sobre o que vestir, o que comer, o meio de transporte a utilizar, onde morar, como viajar, são hoje gestos com implicações diretas nas cadeias de produção e com um impacto sem precedentes no meio ambiente.

 

A crise climática ou emergência climática, como já declarada em alguns países, é um alerta essencial para nos defendermos de nós próprios, em consequência da forma como tratamos o planeta, que reage, muitas vezes defendendo-se da pior forma da nossa própria ação. De certa forma já todos perceberam isto, com exceção talvez apenas dos novos negacionistas dos tempos modernos, Trump e Bolsonaro, que descobrirão da pior forma que não estamos perante mitos, mas sim numa luta contra a nossa própria sobrevivência. 

 

Por cá, a velha Europa faz o seu caminho, a velocidades diferentes é certo, onde os países do Norte lideram, com exceções para alguns estados do Sul, como Portugal, neste momento no pelotão da frente, em bom rigor impulsionado por uma política ambiciosa e ousada do primeiro-ministro e do agora ministro do Ambiente e da Ação Climática. Não esqueçamos que Portugal foi o primeiro a declarar, em 2016, a meta de se tornar neutro em emissões de gases com efeito de estufa em 2050 e foi também o primeiro país a aprovar um roteiro para a neutralidade carbónica. Uma estratégia ambiciosa sob o lema: descarbonização não é palavrão, é uma forma de ação.

 

A futura presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, uma das donas disto tudo e que tem dentro da gaveta os próximos apoios europeus, determinou já que pretende que a Europa seja o primeiro continente com impacto neutro no clima, que tem dinheiro e está disposta a pagar para ver. Dos seus primeiros documentos de orientação política consta o compromisso de propor um Pacto Ecológico Europeu nos primeiros 100 dias do seu mandato, que incluirá a primeira lei europeia sobre o clima com vista a alcançar a meta da neutralidade climática para 2050. As mudanças de atitude na Europa afiguram-se firmes, determinadas e irreversíveis.

 

De outros objetivos assumidos conta a determinação de tornar a União Europeia líder mundial na economia circular e nas tecnologias limpas, na descarbonização das indústrias que fazem utilização intensiva de energia ou a mudança de paradigma nos processos produtivos da agricultura, não deixam dúvidas sobre as opções estratégicas em matéria de políticas ambientais para a Europa. Com efeito a agricultura é apontada como tendo um papel decisivo enquanto parceiro estratégico para este processo de mudança.

 

A nova política de apoios e financiamentos em preparação incluirá um novo fundo para uma transição justa, o financiamento verde. Paralelamente surge um plano de investimento para uma Europa sustentável no qual estão subjacentes à nova estratégia de desenvolvimento, uma abordagem integrada para preservar o ambiente natural na Europa, combater as alterações climáticas, valorizar a biodiversidade, defender a segurança alimentar, evitar a desflorestação e a degradação dos solos.

 

A futura presidente da Comissão Europeia lança desafios sem precedentes e assume a proposta de transformação de uma parte do Banco Europeu de Investimento num Banco Europeu do Clima.

 

Outros organismos europeus como a EurEau centram as suas preocupações ambientais nas questões da água, um vetor fundamental para a proteção de um recurso vulnerável e uma questão central. A EurEau é a Federação Europeia de Associações Nacionais de Serviços de Água e representa operadores de 29 países, quer do setor privado, quer do setor público. No seio da organização foram elencados os 10 maiores desafios da década, onde se destaca um alinhamento evidente com a estratégia europeia de um crescimento verde e azul. Desde a promoção do crescimento económico sustentável ao valor da água na economia circular, a necessidade de uma abordagem de controlo na origem para micropoluentes ou o impacto crescente das mudanças climáticas na água deixam claro que o crescimento verde impulsiona em toda a linha também um crescimento azul.

 

A salvaguarda e proteção dos oceanos e das espécies marinhas começa em terra. Entre outras questões, o combate aos plásticos de utilização única é absolutamente fundamental. Também aqui Ursula von der Leyen determinou que a Europa liderará esta questão invertendo desde já os piores cenários que apontam para que em 2050 existam mais plásticos do que peixes nos oceanos.

 

Definitivamente a mudança está em curso, desde logo na tomada de consciência dos reais desafios que se colocam na transição para uma economia mais verde e mais azul, mas sem dúvida também na forma de gestão e prioridade de atribuição de novos ciclos de programação em matéria de fundos comunitários.

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