Diário do Alentejo

Iguais perante a lei, nem melhores nem piores
Opinião

Iguais perante a lei, nem melhores nem piores

José Lopes Bernardino, caçador

16 de outubro 2019 - 11:05

Se Portugal constitui uma sociedade democrática e um Estado de direito, somos iguais perante a lei, nem melhores nem piores, não recebemos lições de dianteira democrática de grupo algum, as opções por que nos pautamos são nossas e temos esse direito; o movimento associativo da caça, para lá de representar cerca de 250 mil caçadores encartados, representa cerca de três mil clubes e associações, talvez o maior setor associativo no País e é nesta realidade que nos colocamos.

A caça lida com a morte dos animais, o que torna a atividade como um alvo fácil. Gostaríamos de ver essa proatividade virada para os que, pessoas e estados, prepararam, e continuam hoje a fazê-lo, vírus que têm vindo a destruir espécies, como o coelho antes, a lebre agora, com as consequências ambientais e noutras espécies quase ao nível do próprio Planeta. Assistimos, porém, a silêncios feitos de omissão e submissão, enquanto alguns se viram para os caçadores, atores menores em questões muito mais vastas.

 

A caça existe como atividade ancestral da Humanidade; ainda que tenha deixado de ser, para cada caçador, uma atividade de coleta alimentar ou de recursos, ainda hoje representa, para a grande maioria, um recurso alimentar apreciado. Assim exercida, tem pressuposta a exigência da sustentabilidade de cada espécie a que se dirige, princípio a que todos estamos obrigados. Por outro lado, a caça tem por vezes um caráter de intervenção corretiva. De facto, o crescimento da Humanidade, do qual não temos que ter vergonha, pois é por isso que temos a sorte de aqui estar, rompeu a cadeia dos equilíbrios harmoniosos entre espécies. Os exemplos de intervenção, para reposição dum equilíbrio que é precário, estão presentes por todo o mundo e o caso do abate de morte provocada a famílias inteiras de elefantes é paradigmático: se a simples ideia do ato faz doer a alma a qualquer pessoa, há quem, ainda assim, pareça fazê-lo com mais determinação do que aquela que somos, enquanto país, capazes de alocar a um simples bando de pegas.

 

O que é preferível, caçar javalis na Arrábida, e manter espécies de orquídeas endémicas, ou submetermo-nos a uma religião animalista enquanto o resto das orquídeas desaparece, como já sucedeu a algumas outras? Preferimos os javalis a passear na cidade de Setúbal ou a acompanhar à escola as crianças de Azeitão? Esperamos, resignados e submissos a grupos de cariz dogmático, que a peste suína africana acabe com os suínos na Europa?

 

Se a atividade de caça preocupa alguns, e é responsabilizada pelas dificuldades que algumas espécies conhecem, seria expectável que esses mesmos se preocupassem com as ameaças e a quebra de efetivos que algumas espécies não cinegéticas já registam, no silêncio e na indiferença daqueles, como algumas aves estepárias. Não têm os caçadores para culpar. Por paradoxal que pareça, dificilmente se encontra um grupo social tão vasto como o dos caçadores, tão preocupado e sensível às questões ambientais como os caçadores. Nós conhecemos as espécies, ao contrário de muitos, do asfalto e do cimento, dos que se insurgem contra a caça. As suas preocupações com as espécies em causa só existirão enquanto os caçadores existirem, porque o seu único móbil é o preconceito… Ninguém conserva o que não conhece.

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