Diário do Alentejo

Decidir
Opinião

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Luís Godinho, jornalista

04 de outubro 2019 - 18:25

Mandam os bons costumes e o politicamente correto que em vésperas de eleições os diretores de jornais escrevam editoriais a apelar ao sentido cívico dos cidadãos, aconselhando o voto enquanto direito constitucional e dever cívico, fonte de construção de uma sociedade mais justa porque permite a todos participar na definição das opções políticas com que se irão enfrentar os problemas do presente e construir o nosso futuro coletivo. Não fujo à regra. O tempo é mesmo esse, o de fazermos opções, mais à esquerda ou à mais direita, escolhendo o partido cujo programa eleitoral e a praxis política mais se aproximem daquilo que entendemos ser o mais adequado para a governação do País. Entre 17 alternativas, tantas quantas os partidos que se apresentam a votos no círculo eleitoral de Beja, há opções para todos os gostos.

 

Se falarmos de regionalização, tema central na próxima legislatura, há quem a defenda e quem entenda que ela não é necessária, quem aposte na descentralização e na eleição dos presidentes das comissões de coordenação e desenvolvimento regional como solução mais imediata para retirar poder ao Terreiro do Paço ou até quem considere o assunto de tal forma irrelevante que não o tenha incluído no respetivo programa. A reforma da lei eleitoral, tema que ganha relevância à medida que se cava o fosso entre eleitos e eleitores e entre interior e litoral a ponto de pôr em causa a proporcionalidade do sistema, estará igualmente sobre a mesa nos próximos anos, existindo propostas de reconfiguração dos círculos eleitorais, seja através da criação de círculos uninominais ou da redução do número dos existentes, seja mantendo a atual lei ou valorizando os votos brancos. Sem dotar o interior de uma capacidade efetiva de decisão não conseguiremos inverter o ciclo de despovoamento e abandono que “inclina” o País para o litoral. Sem ajustamentos na lei eleitoral a eleição de deputados ficará cada vez mais concentrada num pequeno número de distritos e a desproporcionalidade entre votos obtidos e mandatos ir-se-á acentuar – nas últimas Legislativas, por exemplo, os 38,4 por cento de votos obtidos pela coligação PSD/CDS traduziram-se na eleição de 46,5 por cento dos deputados.

 

A verdade é que a campanha não girou em torno destes temas, nem de outros como as respostas à emergência climática, as relações laborais ou a reorganização do SNS para acabar com a falta de médicos no interior, por mais decisivos que eles sejam. O tempo foi consumido na política/espetáculo feita de casos mediáticos, troca de insultos e “duelos” em estúdios de televisão, além das habituais campanhas mesquinhas que incendeiam as redes sociais e alguns media. Aqui chegados, resta-nos um apelo à reflexão. À reflexão sobre o que de positivo e de negativo fica da legislatura que agora termina. À reflexão sobre o que consideram verdadeiramente importante para os anos que se avizinham. Depois será o momento da escolha, honrando a luta de tantos homens e mulheres para a existência de um sufrágio universal e livre. Há 50 anos, em 1969, durante a ditadura, também houve eleições, mas o resultado estava previamente definido. Agora, todos os votos contam e todos valem o mesmo. É essa a força da democracia

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