Diário do Alentejo

A liberdade não tem idade
Opinião

A liberdade não tem idade

Vítor Encarnação

21 de abril 2024 - 12:00

A liberdade faz cinquenta anos, mas a liberdade não tem idade, tal como a não têm o oxigénio, a luz, o amor, a água dos rios.

Os homens e as mulheres que a têm não sabem o que é não a ter. Digam-lhes que não ter liberdade é como não respirar, é como cegar, como apodrecer de ódio, como morrer à sede.

Expliquem aos homens e às mulheres que apenas têm liberdade porque houve homens e mulheres a quem foi tapada a boca, roubada a luz, tirado o amor, negada a água. Contem-lhes essas histórias feitas de silêncio e de amargura, de horizontes analfabetos, de fomes grandes, de existências coladas a um chão de miséria, de palavras proibidas, de livros escondidos, de vidas impedidas, de homens e mulheres que conseguiram fugir à triste sina e ousaram respirar, ver, amar, beber.

Contem-lhes histórias de coragem, não se esqueçam da dor, do sangue, da separação, da morte, não façam disso ideias vagas, não desvalorizem a dignidade e a força que foi necessária para podermos abrir a boca, os olhos, o coração, a porta de um outro tempo.

Não venham com intelectualidades, boçalidades, memórias seletivas, não usem o vosso direito à liberdade de expressão apenas para destruir este edifício de claridade, para voltar atrás no tempo, para reabilitar medonhas figuras e obras, para vangloriar homens e mulheres a quem nada faltava nesse tempo sombrio, para iludir e confundir homens e mulheres que não conhecem outra coisa que não seja a liberdade.

A liberdade faz cinquenta anos, uma idade tão bonita, mas cada vez vejo mais gente a virar as costas à festa. 

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