Diário do Alentejo

Serpa  e a conquista da manutenção no nacional
Opinião

Serpa e a conquista da manutenção no nacional

José Saúde, jornalista

20 de abril 2024 - 12:00

Numa pesquisa às calendas históricas portuguesas, constata-se que Serpa fora, nos seus primórdios, habitada pela civilização romana, contudo, no ano de 1166, D. Afonso Henriques conquistou-a aos mouros. Num périplo feito ao local, constata-se que no ano de 1295 D. Dinis mandou reconstruir o castelo e edificar as muralhas, sendo que, mais tarde, em 1513, D. Manuel concedeu-lhe a carta de foral e o povoado, rico em pastorícia e artesanato, desenvolveu uma enorme atividade comercial. Nesta sintética correria biográfica verifica-se que em 1674, D. Pedro II, ainda na condição de príncipe regente, conferiu-lhe o título de “Notável Vila”. Desportivamente, o jogo da bola terá chegado a Serpa no ano de 1923. João Morgado Gomes, António Batista da Palma, Jacinto Lança, João Batista Palma, Arnaldo da Cruz Carrasco e Manuel Campina foram os grandes incitadores de tal novidade. Em 1925 surgiu à estampa o grupo Gatos Foot-Ball Clube Serpense, onde João Batista Galamba, capitão de equipa, se assumiu como principal precursor do conjunto que se sediou na Sociedade Artística Filarmónica Serpense. Na localidade havia uma outra sociedade de nome Filarmónica União Serpense, sendo os rapazes daquela associação conhecidos como “Os Trauliteiros” e criaram o Vitória Sporting Clube. E é ao fixarmo-nos neste afamado desígnio desportivo que afiançamos que na urbe da margem esquerda do Guadiana sempre despontaram eloquentes deuses da bola. Em 1937 deu à estampa o Club Foot-Ball Serpense e a 2 de dezembro de 1938 fundou-se o Futebol Clube de Serpa. Aliás, nos anais da gesta futebolística baixo-alentejana, fica narrada a certeza que na época de 1956/1957, com João Diogo Cano como presidente da direção e um homem que investiu uma fortuna própria com o futebol da sua terra, o clube sagrou-se campeão da III Divisão Nacional, numa final disputada em Coimbra, sendo a equipa vencida o Vila Real de Trás-os-Montes. Teixeira da Silva e Coureles carimbaram os golos do sucesso. Avivando memórias, recorro a uma foto que guardo religiosamente no meu espólio e que regista a constituição do 11 que realizou um jogo na II Divisão Nacional: Garcia, Osvaldo, Zé Ferreira, Sardinha, Eduardo, Manuel Baião, Patalino, Coureles, Teixeira da Silva, Cecílio e Dionísio. É óbvio que o prodígio criou raízes profundas e o povo jamais abdicou de um penetrante afeto a um emblema que ao longo do percurso conquistou a afeição das suas gentes. Serpa é, também, berço de excelentes cantadores, uma “Terra Forte” onde Abade Correia de Serra foi e é uma figura francamente referenciada, daí que a biblioteca municipal seja reconhecida com o seu nome. Hoje os adeptos do futebol vivem ao rubro a final da época de 2023/2024, uma vez que na derradeira jornada do Campeonato de Portugal os serpenses deslocaram-se ao reduto do Barreirense, vencendo (2-1) o jogo que permitiu a festa em casa alheia. Serpa e a conquista da manutenção no campeonato nacional. Parabéns!

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