Diário do Alentejo

Princípios e trincheiras
Opinião

Princípios e trincheiras

Vítor Encarnação

14 de abril 2024 - 12:00

No que toca a posicionamentos sociais que implicam escolhas, há um mundo de diferenças entre a célebre piada de Groucho Marx “Estes são os meus princípios, mas se não gostarem deles, eu tenho outros” e a famosa afirmação atribuída a Ernest Hemingway: “ – Quem estará nas trincheiras ao teu lado? – E isso importa? – Mais do que a própria guerra”. Todos nós conhecemos, ou somos em determinada fase da nossa vida, por necessidade, por avidez, ou por ingenuidade, por um lado, e por determinação, hombridade e maturidade, por outro lado, exemplos mais próximos da piada de Groucho Marx ou da afirmação de Hemingway. Da frase de Groucho Marx depreende-se que o sentido de oportunidade é determinante nas escolhas que fazemos, usando e abusando quer de uma despudorada flexibilidade moral, quer de uma elasticidade na interpretação e na aplicação de princípios e valores. Pelo contrário, a afirmação atribuída a Hemingway parece revelar um profundo sentido de lealdade e de integridade. Por sermos seres eminentemente sociais, precisamos de estar com outros indivíduos e grupos e para tal escolhemos um dos lados da barricada. Mas se radicalizarmos esses posicionamentos, toda a nossa participação na sociedade, nas suas múltiplas facetas, tudo aquilo que aprendemos e ensinamos fica contaminado pelo carreirismo, pela desonestidade, pela indecência e pela malícia, pela intransigência e pela intolerância, quer porque trocamos de princípios muito rapidamente, quer porque nos entrincheiramos como se todos os outros fossem inimigos. 

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