Diário do Alentejo

Saudades da nossa “Alentejana”!
Opinião

Saudades da nossa “Alentejana”!

José Saúde

30 de março 2024 - 12:00

Não vou caminhar, por uma questão de honorabilidade, por veredas impercetíveis, aceitando, sim, que os tempos decorrentes são diametralmente opostos a realidades que outrora conheci nas diversas Voltas ao Alentejo em Bicicleta que realizei, em direto, para a rádio “Voz da Planície”, de Beja, ou para o jornal “O ÁS”, acompanhando o evoluir das etapas e o frenesim da competição.

As imagens que guardo sobre a “Alentejana” são imensas. É óbvio que estimo as suas exemplares alterações, alterações que passam pela forma básica de como a competição é organizada de acordo com os padrões estatutários da Federação Portuguesa de Ciclismo.

Com a justa altivez dos seus mentores que produzem um trabalho literalmente inegável, sendo, por outro lado, os tempos de hoje diferentes daqueles do antigamente quando a prova era organizada pelas autarquias do Alentejo. Recentemente o jornalista Fernando Emílio, um exímio mestre na ciência sobre o tema do ciclismo, numa entrevista à “Bola TV”, salientava, com simplicidade e conhecimento, a forma como a globalidade velocipedista engrandeceu, sendo esta, tal como sempre o fora, merecedora do nosso sublime respeito.

Os ciclistas são seres humanos que merecem ser tratados com dignidade e respeito, uma vez que eles, atletas de rijo carácter, são esforçados a tarefas onde a dureza substancialmente impera. São quilómetros e mais quilómetros de um pedalar constante, não obstante as dificuldades que o terreno impõe, em cima de uma máquina onde a luta hercúlea entre o homem e a bicicleta é, tão-só, uma correlação de forças inigualáveis.

Puxo a fita do tempo atrás, reavivo momentos de excelentes convívios, de imagens que continuam na minha mente e que se estenderam desde os finais da década de 1980 a princípios do século XXI.

Aliás, amizades que ficaram para sempre e que vão desde as brincadeiras feitas àqueles que pela primeira vez participavam no evento, forjando comunicados pejados de castigos, ou da aflição dos visados que no dia seguinte, antes da etapa partir para a estrada, se deparavam com as infrações inscritas que ditava o seu abandono da prova, ou, ainda, as fictícias coimas observadas ao longo da etapa.

Mas, tudo se resumia a uma compreensível brincadeira que visava o chamado batismo de companheiros que se iniciavam num acontecimento considerado como um dos maiores feitos desportivos do ano.

Era o tempo em que as rádios regionais ganhavam audiência e o povo correspondia fulgurantemente a informações trazidas pela sua telefonia. O tempo das multidões que ao longo das etapas aplaudiam o colorido do pelotão, de gentes das cidades, vilas, aldeias e de pequenos lugares habitacionais que rumavam à estrada, ou à rua, para viverem o acontecimento entusiasticamente.

Porém, falar da Volta ao Alentejo em Bicicleta e não falar de um dos nomes que esteve ligado à origem de tamanha iniciativa seria, em meu entender, uma pura injustiça: o eborense “tio” Manel da “Gaita”. Saudades da nossa “Alentejana”!

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