Diário do Alentejo

Mais de um milhão
Opinião

Mais de um milhão

Vítor Encarnação

16 de março 2024 - 12:00

Tudo tem uma causa e uma consequência, dizia o homem sentado na esplanada. É preciso conhecer bem as duas em profundidade e, principalmente, analisar todo o percurso. É fundamental saber como se chegou e por que é que se chegou ao sítio e ao tempo que não queríamos. Não basta pôr as mãos na cabeça, ficar em choque, gritar ideologias ou invocar a fraca cabeça dos eleitores. Isso não serve de nada, a realidade é o que é, mesmo que nós, num determinado momento, não gostemos dela. Acho que as pessoas se esquecem que a liberdade e a democracia são apenas conceitos que só se tornam efetivos quando continuamente bem aplicados. Se nos esquecermos da importância da informação histórica, da cultura humanista, se a memória se perder, se a democracia for usada para interesses pessoais e corporativos, se as decisões governativas forem cerceando direitos, promovendo desequilíbrios, desenhando injustiças, se os cidadãos se forem fartando de esperar e de não ter, os protestos e os radicalismos vão aumentando. E convenhamos que ao longo destes cinquenta anos temos tido alguns maus intérpretes da democracia, gente pomposa na palavra, na fatiota e na influência, alguns, sem vergonha, de cravo na lapela, que têm deteriorado valores e princípios básicos da nossa vida comum e, por conseguinte, dado cabo de um projeto social e político centrado em liberdade, igualdade, direitos e garantias. Mais de um milhão de pessoas é muita gente. Não gosto do que as move, mas negá-las e não tentar compreendê-las é um erro e uma imprudência que um dia se poderá pagar muito cara. 

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