Diário do Alentejo

 “Tio” Firmino
Opinião

 “Tio” Firmino

José Saúde, jornalista

12 de março 2024 -

As recordações desportivas que amiúde aqui expomos são causas verídicas que ousam desafiar a tenacidade dos tempos, tendo em linha de conta a razão de saber quem somos e de onde viemos. Na última “Bola de trapos” falámos sobre um antigo jogador de futebol que deixou história por estas paragens sul-alentejanas: o “tio” Firmino. Timoneiro de um mítico balneário, o “tio” Firmino Lopes, vulgo “tio” “Xaxinha”, foi jogador do Luso Sporting Clube, todavia, o seu nome ficará também recordado como o mítico roupeiro do Desportivo de Beja. Neste capítulo, há pequenas histórias que nos remetem para a saudade, em que pequenas descrições traduzem o que foram os meandros do futebol do antigamente. A época de 1932/1933 estava prestes a iniciar-se e a 12 de dezembro a Associação de Futebol de Beja organizou um torneio de preparação onde participaram o Luso, Sport Lisboa e Beja, Despertar e o Esperança. O primeiro desafio opôs o Luso ao Sport Lisboa e Beja, sendo que o jogo foi interrompido aos 28 minutos da segunda parte e quando o resultado registava um empate (1-1). Amândio Pacheco, árbitro da partida, decidiu expulsar o jogador do Luso, Firmino Lopes, resultando da sua sentença uma enorme discórdia. A decisão não foi pacífica e o público ter-se-á sentido defraudado por um espetáculo que não chegou ao fim. A dedicação do “tio” Firmino ao futebol foi imensurável. Conheci-o como roupeiro no Desportivo e a forma sábia em lidar com os atletas que chegavam a Beja. Constava-se que havia equipamentos rotos, mormente meias, que o “tio” Firmino armazenava para mimosear as mais recentes vedetas. Botas velhas com travessas e impregnadas de pregos maliciosos era uma das suas diferentes brincadeiras. Olheiro atento, previa, desde logo, o futuro da nova promessa só pelo calçar e o atar das chuteiras. “Este não presta”, comentava o mestre. Em arames segurados com espias em madeira e carregados de equipamentos estendidos ao sol, era um cenário trivial no velhinho estádio municipal. Mas o “tio” Firmino não se ficava pelas folias do balneário, revejo-o a alugar bolas remendadas em catechu à rapaziada. Vinte e cinco tostões por uma hora de jogatana era a tabela e se os moços se descuidassem lá estava o “tio” Firmino a lançar o estridente grito indicando que o tempo se havia esgotado. Ou, nas tardes domingueiras de futebol ser um empreendedor num arranjar uma equipa de apanha bolas que se sujeitavam às táticas exemplares que o instrutor desenhava. Se o Desportivo estivesse a ganhar, os moços tinham uma atitude para entregar a bola aos jogadores para o jogo recomeçar, sendo que alguns já tinham saltado o muro e introduzindo-se no meio da multidão, ou se o Desportivo estivesse a perder, tudo era feito a uma velocidade alucinante. Histórias hilariantes que o tempo jamais esquecerá. “Tio” Firmino, uma das figuras típicas doutros tempos na velha Pax Julia!  

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