Diário do Alentejo

Manel Braz: a derradeira viagem!
Opinião

Manel Braz: a derradeira viagem!

José Saúde

30 de dezembro 2023 - 08:00

Tinha 21 anos quando deixou o Despor-tivo de Beja e ingressou no Sport Lisboa e Benfica. Falamos de Manuel da Conceição Santos Braz, um homem que nasceu a 28 de dezembro de 1930, na freguesia da Trindade, concelho de Beja, e faleceu a 22 deste mês. Muito novo rumou à capital do distrito, urbe onde deu os primeiros pontapés na bola.

As eiras, em particular as do Almodôvar, lá para as bandas da antiga mata, local onde se localiza hoje o Hospital José Joaquim Fernandes, era o palco em que a moçada se juntava para disputar mais uma jogatana.

Numa viagem aos tempos de infância, Manel Braz dizia que começou a ver o Luso por causa de Mário Montez, um jogador que muito admirava. Em 1949 iniciou-se no Desportivo e lembrava uma estória que envolveu salário.

O Desportivo era formado na base por jogadores vindos do Luso e do União e um dia descobriu que os outros companheiros ganhavam 300 escudos por mês, sendo que nesse mesmo dia se dirigiu à sede, na rua do Sembrano, expondo ao presidente, Joaquim Branco, o seu descontentamento, uma vez que era um dos titulares do 11 e não usufruía desse privilégio. Joaquim Branco, já sapiente no dirigismo desportivo, abriu a gaveta da secretária e mostrou-lhe o cartão em que se lia: “jogador de reservas”.

Não obstante a marosca, continuou a assumir a titularidade. O primeiro fato de treino foi feito de uma fazenda comprada por ele nos Armazéns Zé Graça, sendo a costureira Bia Toda, residente da rua do hospital velho, a mestra que o trabalhou.

Em 1951, eis Manel Braz, em Lisboa, a cumprir serviço militar. Os treinos no Benfica eram às terças, quartas e sextas-feiras, às sete e meia da manhã, no Campo Grande, e lá ia ele com o Manero, seu camarada militar, para o ver jogar.

Um dia pediu ao treinador, Ted Smith, para treinar e a verdade é que fez um treino formidável, mesmo calçando sapatilhas, uma vez que abdicou das botas com pitons, e foi convidado para ir à sede dos encarnados, onde o presidente Francisco Retorta o recebeu, assinando como jogador de reservas, com o salário de 1500 escudos mensais. Na temporada de 1951/1952, o plantel do Benfica era formado com excelentes jogadores.

Jacinto, Bastos, António Manuel, Carlos Alberto, Lara, Bráulio, Prudêncio, Batalha, Reis, Calado, Caraça, Francisco Ferreira, Artur Santos, Moreira, Oliveira, Cesário, Zé da Costa, Rosário, Manel Braz, Julinho, Arlindo, Corona, Arsénio, Rogério, Águas e Zé Moniz são alguns dos craques que militavam no plantel.

No final dessa época o Benfica propôs ao Desportivo a sua aquisição, cujo valor se situava em mil contos, enquanto os bejenses avançavam com uma contraproposta de 1500, dado que o clube da Luz, diziam eles, tinha condições para concretizar o respetivo contrato. Não houve acordo e dá-se o regresso de Manel Braz ao Desportivo.

Na época de 1953/1954, eis um 11 do Desportivo: Batalha, Zé Passinhas, Honório Paixão, Zé Sardinha, Soares, Camiruaga, Martins, Marcelino, Calceteiro, Júlio Cassieles e Braz. Manel Braz: a derradeira viagem! Paz à sua alma.

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