A assertividade, essa maneira de fazer ou dizer algo de maneira segura, essa manutenção de um meio-termo entre dois extremos, um por imposição ou agressão, o outro por dependência ou submissão, parece uma coisa simples, mas não é. A nossa cultura, ainda muito marcada por estratificações sociais, enraizada em relações de dependência e favores, de loas e paninhos quentes, de paternalismos e condescendências, não propicia aplicações práticas e simples de uma norma, de uma regra, de um princípio, não equilibra relações institucionais, confunde frontalidade com presunção, amua facilmente. O cinismo e a hipocrisia, por um lado, a passividade e a autoridade incompetente, por outro, tratam logo de desconfiar dessa capacidade de dizer sim ou não quando for preciso. Por muito que se trabalhem competências de autoconceito positivo, de autoestima, por mais que se treinem capacidades de afirmação pessoal, de interpretação do que nos rodeia, de formas de comunicação clara, de tomadas de decisão baseadas nos juízos formados a partir da experiência, do conhecimento e da cultura, a forma como a nossa sociedade está organizada raramente permite fazer uso dessa firme maneira de ser. A pertença a grupos, a partidos, a ideologias, a integração em corporações que se unem para não perderem os seus interesses comuns, a zelosa manutenção de regalias e a certeza que manda quem pode e obedece quem deve, anulam, ou desgastam profundamente, aqueles que, não sendo de um lado nem de outro, são do lado que quiserem.