Diário do Alentejo

Ódio
Opinião

Ódio

Vítor Encarnação, professor

10 de novembro 2023 - 10:00

O ódio não nasce e não cresce espontaneamente. O ódio não é uma fatalidade, o ódio constrói-se e a demagogia e o populismo são peritos nessa construção. É preciso ir criando a circunstância, moldando o caminho, a forma e o conteúdo, disseminando e repetindo ideias, ensinando na família, convencendo os amigos, influenciando os vizinhos, impondo programas, impondo o medo, castigando as opiniões diferentes, distribuindo propaganda, procurando culpados, acusando a diferença, culpando os que não são como nós, perseguindo todos os que não se enquadram numa ideia nacionalista, ou seja, a família, o povo e a pátria. Neste tipo de discurso ideológico e político, a pátria nunca surge como uma forma de identidade cultural tolerante ou um espaço territorial aberto, a pátria é sempre definida como algo puro que se tem de preservar do que vem de fora, como se ela própria, no conforto do bem, da moral e dos bons costumes, nos passasse uma espécie de certificado que nos eleva a um nível superior. O discurso de ódio é a base. É certo e sabido que o discurso efervescente provoca emoções e também se sabe que as emoções, se forem cirurgicamente ao encontro de receios, se avivarem frustrações, se descobrirem necessidades, se encontrarem bodes expiatórios, se forem fruto de um contágio de massas, anulam o raciocínio e, por consequência, o intelecto apenas consegue acusar, destruir, culpar, vociferar, guerrear. Tudo em nome dos nossos, sempre contra os outros. O ódio fere de morte a nossa existência.

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