Diário do Alentejo

Pingue-pongue
Opinião

Pingue-pongue

José Saúde, jornalista

26 de outubro 2023 - 15:00

Nas singelas e adornadas pingas de orvalho que caem copiosamente de uma fértil planta e se explana pela sua exonerável momentânea dissipação, o desporto, na sua generalidade, tem óbvios argumentos para que deles possamos elaborar pequenos textos que se estendem desde a sua longínqua aparição aos tempos contemporâneos. As modalidades, todas elas e sem desprimor pela sua vertente, conferem-nos o direito em redigir diversificadas temáticas que muito nos motiva. Nesta conjuntura, cito o pingue-pongue, conhecido por ténis de mesa, uma modalidade desportiva que surgiu em Inglaterra no século XIX. A popularidade do jogo motivou que as empresas de brinquedos se iniciassem nas vendas dos respetivos equipamentos.

Do pingue-pongue, desígnio utilizado pela companhia inglesa J. Jaques que registou a marca em 1901, sabendo-se que outros fabricantes passar-lhe-iam a chamar de ténis de mesa. Não pormenorizando a sua evolução, nem tão-pouco a dimensão enorme que a oportunidade desportiva implementou em povos mundiais, importa referir que o jogo é disputado numa mesa retangular, separada por uma rede ao meio, a bola é feita em celuloide ou plástico similar e os jogadores, nas suas extremidades, utilizam uma raquete para que a pequena esfera alcance os efeitos mágicos no espaço onde a contenda se desenvolve. Esta passagem por uma circunstância que nos fora familiar na nossa juventude conduzem-nos a períodos idos, em que a rapaziada matava o tempo a jogar ao pingue-pongue. Revejo, em particular, as tardes inesquecíveis na casa da extinta Mocidade Portuguesa, situada na antiga “rua das lojas”, em Beja, cujo responsável pelo espaço era o senhor Arlindo. A malta brigava ao minuto pela sua vez e quando o momento se proporcionava lá propagava os seus dotes na arte do divertimento.

Havia, de facto, os mestres, aqueles que davam tareia nos mais fracos, todavia, o jogo debitava ecuménicas emoções. O embate terminava às 21 faltas averbadas pelo perdedor, bola na rede ou a sair sem que tocasse na área de mesa do adversário. Realidades desportivas em que a malta se divertia à brava, mas respeitando escrupulosamente o local onde se concentrava, assim como o opositor de ocasião. Depois vinham as brincadeiras de rua e, obviamente, outros jogos. As crianças e os jovens eram saudáveis. O convívio pautava-se pela alegria e prevalecia a amizade. Hoje, perderam-se valores que marcaram a mocidade do passado. Uma secretária, uma cadeira e um computador é o espaço restrito de garotos que brincam agora, à sua maneira, num pequeno aparelho chamado telemóvel e que contém uma infinidade de jogos. O pingue-pongue, esse jogo em que a rapaziada se entretinha horas a fio, foi chão que já deu uvas e os divertimentos dessa ousada rapaziada são histórias do passado.

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