Não me lembro de ter em pequeno aprendido o valor do elogio, não me recordo de ter presenciado muitas situações em que o enaltecimento fosse um ato comum, não tenho memória de o louvor fazer parte de uma aprendizagem familiar, comunitária ou nacional. Se calhar fui eu que não me apercebi, se calhar fui só eu que não o testemunhou. Até me parecia que qualquer sucesso vinha logo embrulhado em falsidade, em ajudas e em cunhas. Quando eu era pequeno, ser diferenciado não era fácil. As crianças aprendem o que lhes ensinam, ninguém nasce completo, mas também ninguém nasce com preconceitos. Senti sempre que, nas famílias, nas escolas, na comunidade, havia uma dificuldade em aplaudir e em valorizar, senti sempre que era muito mais fácil, muito mais imediato, muito mais intuitivo, criticar, apoucar, reduzir. Sentia e ainda sinto. Não estou a falar de um qualquer espetáculo, de pessoas já revestidas de uma importância social, mesma que essa importância seja ridícula, aí é fácil batermos palmas e glorificar. Falo de pessoas comuns, de pessoas que se constroem a partir de dentro, a partir de um plano, focadas num objetivo, pessoas que percebem que a vida é um caminho difícil e que esse caminho tem regras muito próprias e que o percurso é feito de sacrifícios e de esforço. Nada lhes é dado de mão beijada, nada lhes é oferecido por benesse, nada lhes é atribuído por meios ilegais ou indignos. Essas pessoas têm mérito. Não há que ter vergonha do mérito, nem de o ter, nem de o celebrar.