Com a devida vénia ao saudoso fadista Carlos do Carmo, coloco neste texto pequenas estrofes de um dos seus fados, “Os putos”, que espelham a realidade constatada no passado 5 de outubro, Dia da Implantação da República, no Campo de Jogos do Bairro de Nossa Senhora da Conceição, em Beja, cujo elenco diretivo assumiu o Torneio de Futebol Jovem que se espalhou pelos escalões de futebol de sub-5, de sete e de nove anos: “Uma bola de pano, num charco; Um sorriso traquina, um chuto; Na ladeira a correr, um arco; O céu no olhar, dum puto… Parecem bandos de pardais à solta; Os putos, os putos; São como índios, capitães da malta; Os putos, os putos; Mas quando a tarde cai; Vai-se a revolta; Sentam-se ao colo do pai; É a ternura que volta; E ouvem-no a falar do homem novo; São os putos deste povo; A aprenderem a ser homens”. A prosa citada reflete, em plenitude, uma imensurável veracidade que colocaram os “putos” num delírio constante, em que cada toque na bola, ou o prazer do jogo, ou o golo, levou as crianças ao êxtase. É óbvio que se devem tirar destes encontros fidedignas decisões, sendo a respeitabilidade para com o próximo uma matéria que temos de honrar e ovacionar. Aliás, numa placa à entrada do recinto desportivo, a Associação de Futebol de Beja recomenda que todos devem reverenciar os objetivos dos miúdos: “Pais, queremos jogar com estas regras”; “1 – Não grites comigo em público; 2 – Não grites com o treinador; 3 – Não menosprezes o árbitro; 4 – Não menosprezes os meus colegas; 5 – Não percas a calma; 6 – Ri e diverte-te a ver-me jogar; 7 – Não me dês lições depois do jogo; 8 – Não te esqueças que é apenas um jogo; 9 – Pensa que sempre farei o meu melhor; 10 – Com o teu apoio serei feliz; 11 – Não jogo sozinho, somos uma equipa, apoia-nos; 12 – Respeita os nossos adversários”. Estas regras, notáveis, impõem complacência em eventos desportivos, particularmente, no futebol dos mais novos, em que esporadicamente as emoções dos mais velhos transvazam para dispensáveis impropérios. Mas, a razão fundamental da narrativa passa igualmente por enaltecer um acontecimento que se pautou pela espetacularidade, os dirigentes anfitriões foram incansáveis, por isso estão de parabéns pela forma como ordenaram os pormenores, assim como o público, que efetivamente foi muito, basta afirmar que as bancadas estiveram ao longo do dia repletas de gentes, sendo que o “voar dos putos” foi genuinamente delirante. Trezentos miúdos, distribuídos pelos clubes do BNS Conceição, Desportivo de Beja, Despertar, Mineiro Aljustrelense, Moura, Vasco da Gama e equipas de escolas de formação do Sporting CP, academia do Algarve, proporcionaram um dia de elegante convívio que harmonizou os sonhos das crianças. O “voar dos putos” encheu corações, não houve vencidos nem vencedores, todos saíram triunfadores, ficando o nosso singelo obrigado aos impulsionadores de tão sumptuosa circunstância.