Diário do Alentejo

Guimarães  homenageou Osvaldinho
Opinião

Guimarães homenageou Osvaldinho

José Saúde

28 de setembro 2023 - 12:00

Foi com sumptuosidade e circunstância que o Guimarães homenageou Osvaldinho, um dos ícones do emblema vitoriano. A antiga glória do futebol iniciou-se no jogo da bola em meados da década de 1950 e teve como berço o Desportivo de Beja.  António Feliciano, inegável celebridade do futebol português, chegou ao Desportivo vindo do Belenenses, e partiu para a formação da primeira escola de jogadores na cidade. Desse prodigioso grupo de miúdos faziam parte:

Osvaldinho, Orlando Rousseau, Faustino, Joaquim Madeira, Nói Madeira, Nagancha, Diogo Requeijão, Viriato Agatão, Zé das Galinhas, Carlos Alvito (Chaleta), Carocinho, Barnabé e Filipe, de entre outras promessas que pisaram o palco futebolístico. Feliciano, atendendo aos acessórios que cada um dos jovens lhes desapertava, decidiu “batizar” Firmino Baleizão Sardinha, nascido em Beja a 10 de setembro de 1945, com o nome de Osvaldinho, em honra de um antigo atleta do Sporting Clube de Portugal, face às semelhanças de jogar que o rapazinho manifestava com aquela vedeta nacional. Numa viagem pelos primórdios de uma criança que “comeu o pão que o diabo amassou”, o seu palanque desportivo inicial foi o quintal do Almodôvar, lá para as bandas da rua da Lavoura, na velhinha Pax Julia.

Com 11 anos, ei-lo a integrar a extraordinária escola ministrada por essa distinta “torre” de Belém. Francisco Assunção, presidente do Despertar, sempre atento aos valores que despontavam no futebol bejense, convenceu-o a assinar pelos despertarianos. Duas épocas depois deu-se o regresso às origens. Valentim Alexandre, treinador do plantel sénior, tinha um lote de atletas de primeira água. Nói Alves, Isidoro, Quinito, Diogo Barrocas, os irmãos Madeira, Dionísio, Costa, Francelino, Joab, Marcelino e Fernandes, nomeadamente, sendo o “tio” Xaxinha, antigo jogador do Luso, o roupeiro de um balneário repleto de estrelas. Com 17 anos, e detentor de uma aprimorada presença em campo, António Teixeira, um homem do Norte e comerciante em Beja, indicou-o ao Vitória de Guimarães. A transferência consumou-se sendo o seu salário mensal de três contos e quinhentos e 90 contos de “luvas”, um contraste gigantesco face à mensalidade auferida no Desportivo, 750 escudos mensais. Em Guimarães resplendiam craques da bola, sendo Roldão, Daniel, Barreto, Manuel Pinto, Virgílio, Caiçara, Peres, Mendes (“pé canhão”), Rodrigo, Djalma, Morais, Jeremias, Jorge Gonçalves, José Carlos, Custódio Pinto, Chico Rodrigues, Tito e Teodoro, astros que faziam parte desse sumptuoso quinhão de atletas. O treinador era o argentino José do Vale. Osvaldinho foi considerado na cidade berço como o melhor defesa esquerdo do Vitória no século XX, somando no seu pecúlio 14 internacionalizações, incluindo uma pela seleção A, contra a Inglaterra. Ligado ao Guimarães entre 1963 a 1980, ficou também registado uma temporada no Boavista, uma vez que prestou serviço militar no Cicai, Porto, e uma outra no Marítimo, 1981, já na fase derradeira da sua estrondosa carreira. Tudo o que possamos escrever sobre o percurso de Osvaldinho será simplesmente parco. O currículo é vasto e o seu bom coração suporta uma enorme humildade.

Osvaldinho foi, incontestavelmente, um atleta de excelência que enobreceu Beja e a região. Reside em Guimarães e o Vitória prestou-lhe agora uma justa homenagem.

Comentários