Diário do Alentejo

Desensinar
Opinião

Desensinar

Vítor Encarnação, professor

22 de setembro 2023 - 08:00

 Há pessoas que querem ensinar o que nunca aprenderam, dizia o homem sentado na esplanada. Há pessoas revestidas de títulos, certificados, ações de formação e diplomas que se acham o máximo, assumem uma inquestionável capacidade e uma excelsa competência e tentam impor ideias soltas, um filósofo aqui, um psicólogo ali, um pedagogo acolá, um cientista lá mais à frente, um académico sempre à mão dá muito jeito, um escritor, desses pesados e densos, também fica sempre bem, invocam parágrafos soltos de livros mal compreendidos, pedacinhos de teorias, umas modernas, outras clássicas, juntam-lhe umas quantas frases feitas, introduzem citações famosas e infindavelmente repetidas em licenciaturas, mestrados e relatórios, textos bonitos que emprestam umas às outras, já nem são plágios, são cópias de cópias de cópias, artigos que passam de mão em mão, de curso em curso, de função em função, carimbos com diagnósticos iguais, propostas iguais, muda-se o nome, a idade, a problemática, o resto repete-se sem que ninguém ouse contestar. Aí estão elas, essas pessoas imodestas, saídas da inexperiência, impando habilitações e graus, achando-se a solução, a medida que tardava, a conclusão que faltava, a resposta que ninguém encontrava. Tanto tempo perdido e ninguém encontrou o remédio e chegam elas e já está. Mesmo sem terem lido o espesso caderno da vida e o grosso livro do tempo, mesmo sem terem estudado o extenso diário da existência, chegam e ditam. Há pessoas que só ditam e desensinam. 

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