Diário do Alentejo

Relembrar Manuel Baião
Opinião

Relembrar Manuel Baião

José Saúde, jornalista

03 de setembro 2023 - 19:00

A escrita é, sucintamente, uma matéria essencial, onde as panóplias de emoções vagueiam com uma gigantesca atividade por interioridades de vidas em que as sinuosidades dos tempos, assim como a multiplicidade das exorbitantes ocorrências, deixam antever que recordar é viver. Este escrito tem como tema principal a vida desportiva de um senhor do futebol de outrora, de nome Manuel Baião. Generoso e obstinado pela sua entrega total ao jogo, ele foi um dos grandes fidalgos da bola neste espaço sul alentejano. Centralizado na forma como administrava os seus excelentes dotes, não virava a cara à luta e fazia do poder de salto a sua arma colossal. Revejo imagens onde a sua agilidade ditava uma ordem descomunal no interior das quatro linhas em defesa das cores que defendia. Manuel Jesus Baião nasceu em Serpa a 12 de fevereiro de 1931 e o futebol foi a sua grande paixão. Acrescentaria mais: relembrar Manuel Baião é citar um dos ícones do nosso futebol. Depois dos aprazíveis jogos de rua, foi no Luso, no ano de 1948, que deu os primeiros passos no futebol, à séria. Na década de 1950 viviam-se, em Serpa, momentos de grandeza com a equipa a levar ao púlpito façanhas inesquecíveis. Neste contexto, Manuel Baião, com o serviço militar cumprido, regressou à terra e, logicamente, integrou o plantel do Futebol Clube de Serpa (FC Serpa).

O Serpa vivia momentos notáveis, sendo o seu presidente o famoso e sempre inesquecível João Diogo Cano. Por Serpa passaram jogadores de grande qualidade e treinadores de renome. Fabian terá sido o treinador que mais o marcou, sendo o Fonda e o Di Paola técnicos com os quais muito aprendeu sobre a veracidade do futebol. “O Rana foi um dos treinadores a que muito se deve a evolução do futebol em Serpa”, afirmou-me em vida o Manel. No capítulo dos jogadores, Manuel Baião recordava os tempos em que o FC Serpa se sagrou campeão da III Divisão Nacional, época 1956/57, numa final (2-1) disputada em Coimbra a 23 de junho de 1957, sendo o adversário o Vila Real de Trás-os-Montes e com os golos da vitória a serem apontados por Teixeira da Silva e Coureles. Olhemos para alguns dos nomes que dignificaram o plantel: Cerqueira, Sardinha, Fidalgo, Diamantino, Eduardo, Ferreira, Pacheco, Manuel Baião, Garcia, Picareta, Coureles, Cecílio, Cordeiro, Patalino, Teixeira da Silva e Manolo. Em 1962 Manuel Baião ingressou no Desportivo de Beja, mas fica a curiosidade da razão pela qual, no ano antecedente, recebeu um perentório não. “Na época anterior estive à beira de ir para o Desportivo, mas nessa temporada o treinador era o Camiruaga, ele mandou-me chutar uma bola com o pé esquerdo e como este era ‘cego’ o remate saiu defeituoso e não fiquei em Beja”. Após arrumar as botas, Manuel Baião assumiu-se como treinador. Na época de 1971/72 levou o FC Serpa à III Divisão Nacional. Registados ficaram 42 anos de momentos de fama.

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