Diário do Alentejo

Quinito, até sempre!
Opinião

Quinito, até sempre!

José Saúde, jornalista

20 de agosto 2023 - 19:00

Morreu o Quinito. Homem bom, de coração enorme, respeitado e respeitador, sendo o momento já de uma enorme saudade. A sua morte ocorreu no pretérito dia 10 de agosto e peço a todos que nos unemos na nossa velha amizade e lhe façamos, em uníssono, a justa homenagem na hora em que partiu para o além. Faleceu com 85 anos. O tempo, esse findável prazo reservado a cada ser humano, conduz-nos, com dignidade, pelo homem que sempre o fora, a devorar relíquias do seu passado atulhado de esplêndidos palcos desportivos, em que sobressaem primorosos instantes em que o Quinito deixou história no fenómeno futebolístico. Joaquim Alves dos Santos nasceu em Évora no dia 26 de abril de 1938, sendo que a sua paixão pelo futebol teve lugar quando integrou um grupo de moços de rua, seguindo-se os tempos em que os Salesianos lhes facultaram utilizar o campo, bem como os respetivos equipamentos, ficando explicitamente assente no “contrato” a obrigatoriedade de uma ida à missa aos domingos. Mais tarde, e com o espírito da juventude a imperar na cidade, alinhou numa turma que dava pelo nome de River Plate, tendo em linha de conta a influência do futebol argentino na Europa.

Aos 18 anos ingressou no Lusitano Ginásio Clube. O Lusitano militava na 1.ª Divisão Nacional e Quinito, com 19 risonhas primaveras, já brilhava na equipa principal. Otto Bumbel era o treinador num valioso plantel em que pontificavam nomes como os de Vital, Paixão, Antoninho, Zé Pedro, Caraça, Falé, Batalha, Flora, Vicente, Narciso, Marciano, Teotónio, de entre outros. Nesta fase de grande euforia, pois o Lusitano apresentava-se como a bandeira do Alentejo, Quinito participava, também, em torneios populares com os irmãos Mendonça, Fernando e Jorge, jogadores do Juventude e que transitaram para o Sporting. Sporting que endossou, igualmente, um convite à jovem estrela eborense, mas esse desafio gorou-se por uma oposição austera do seu pai. A carreira de Quinito foi carimbada pelo sucesso e explodiu quando se estreou na seleção militar. Na época de 1959/1960 o craque alentejano defrontou o Luxemburgo, vitória portuguesa por 2-0, e recebeu as insígnias de internacional militar. Em 1963, já como funcionário dos CTT, ingressou no Desportivo de Beja e por terras paxjulianas foi protagonista de uma carreira fulgurante. Tive a possibilidade de o ter como companheiro de balneário no Desportivo e conhecer-lhe, em campo, todas as suas mais-valias no cosmos do futebol. Como homem íntegro e maravilhoso no trato pessoal, Quinito foi um dos fundadores da Associação Cultural e Recreativa Zona Azul, uma coletividade de Beja que depositou no antigo “deus da bola” a merecida confiança, sendo o seu trabalho nos escalões de formação simplesmente encantador. O antigo astro, como técnico da Zona Azul, descobriu e arrastou para a ribalta verdadeiros ídolos futuros. A sua cronologia é de inegável nobreza.

Quinito, até sempre, e descana em paz!

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