Diário do Alentejo

Pepe
Opinião

Pepe

José Saúde, jornalista

21 de junho 2020 - 22:15

Contextualizando a generalidade das histórias que marcaram o futebol sul alentejano, existe uma façanha que, por força do feito superiormente alcançado, nos transporta à época 1980/1981, quando o Cabeça Gorda, popularmente conhecido como Ferróbico, em ano de estreia no Campeonato Nacional da III Divisão, eliminou o poderoso Penafiel, grémio que militava no escalão supremo do futebol luso, numa esplêndida jornada que contou para uma eliminatória da Taça de Portugal.

 

O empenho manifestado em campo pelos jogadores do Ferróbico foi extraordinário, perante um conjunto de 'craques' que entrou em campo julgando que a vitória duriense eram "favas contadas". Mas os pupilos de António Oliveira, jogador/treinador que nem sequer se atreveu a equipar-se, enganaram-se, sendo que uma vez mais o desporto-rei provou que não existem vencedores antecipados. Esse jogo realizou-se no Estádio Municipal Dr. Flávio dos Santos, em Beja, e valeu o golo solitário de Pepe. E é ele o protagonista que hoje entra para o quadro de honra de textos que semanalmente historiamos no “Diário do Alentejo”.

 

António José Mourinha Pepe nasceu na freguesia de Santa Maria, em Serpa, a 10 de setembro de 1959, sendo que aos sete anos rumou à Cabeça Gorda, ficando pelo meio uma passagem por Montargil dado que o seu pai era guarda-florestal e os compromissos profissionais a isso o obrigaram. Pepe estreou-se na Zona Azul como juvenil e desses tempos guarda magníficas recordações: “Na época de 1976/1977 fizemos história no Campeonato Nacional de Juniores. Tínhamos uma belíssima equipa. O Chico Fernandes e o Chico Agatão são exemplos de uma equipa onde proliferavam belíssimos jogadores. Quando subi a sénior fui para o Desportivo de Beja”.

 

Na temporada de 1979/1980 transitou para a Cabeça Gorda e, sob a orientação técnica de António Dionísio, foi campeão distrital no escalão primodivisionário da Associação de Futebol de Beja e, na seguinte, o Ferróbico participou pela primeira vez no futebol nacional. Aqui, os atletas de Dionísio, não obstante no final do campeonato o grémio deparar-se com o regresso ao regional, assumiram o estatuto de “tomba-gigantes” numa competição fértil em surpresas ao deixarem pelo caminho o Penafiel.

 

Pepe fala, com paixão, desse momento áureo: “Nessa época eliminamos o Leixões e o Penafiel, este último com um golo marcado por mim. Foi uma jogada de contra-ataque e eu, à entrada da área, chutei à baliza com o pé esquerdo, o que não era habitual. A bola levou tamanha força que bateu no ferro interior da baliza e saiu. O árbitro foi o Poeira, do Algarve”.

 

Claro que a ocasião motivou capas e grandes entrevistas em órgãos nacionais de comunicação social e a Cabeça Gorda saltou para a ribalta. Seguiu-se uma passagem pelo Futebol Clube de Serpa e o regresso ao Ferróbico. Para terminar Pepe recorda treinadores que o marcaram ao longo do seu percurso como jogador: “Quinito e Zé Manel, na Zona Azul; Quim Teixeira no Desportivo e Dionísio no Ferróbico”.

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