Diário do Alentejo

Sustentabilidade do prado ao prato
Opinião

Sustentabilidade do prado ao prato

Sofia Colares Alves, chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal

21 de junho 2020 - 22:00

A agricultura e os diferentes atores do setor agroalimentar são aliados essenciais em muitos dos desafios que a União Europeia (UE) tem pela frente, entre os quais se destaca a transição ambiental, ou “verde”, traduzida pela Comissão Europeia no ambicioso Pacto Ecológico Europeu, o instrumento de resposta à crise climática.

 

Temos agora um exemplo de uma crise provocada por um risco que ninguém soube prever e preparar atempadamente. A crise da covid-19 adquiriu moldes desconhecidos e proporções imprevisíveis e, além dos milhares de vidas perdidas, está a ter um impacto económico e social que é urgente minorar. A recuperação pode e deve ser verde e a crise climática pode ainda ser evitada. Por isso, a Comissão Europeia adotou na semana passada mais dois braços do Pacto Ecológico Europeu: a Estratégia da UE para a Biodiversidade 2030 e a Estratégia “do Prado ao Prato”.

 

A estratégia “do Prado ao Prato” é, como o seu nome indica, uma estratégia para o setor agroalimentar que inclui todos os intervenientes, dos produtores aos consumidores, e por isso será uma estratégia com grande impacto na vida de todos nós. A sua implementação permitirá ter uma agricultura mais sustentável, produtos alimentares mais saudáveis e com impactos positivos também para a saúde do planeta.

 

Em termos de metas para a produção agroalimentar, a Comissão avança várias, com vista a serem cumpridas no conjunto dos países europeus, adaptando-as nacionalmente ao contexto de cada um. O uso de pesticidas, que agrava problemas de poluição dos solos, da água e do ar, deverá reduzir-se em 50 por cento até 2030. A venda de antimicrobianos destinados aos animais de criação e à aquicultura também se deve reduzir em 50 por cento até 2030. Pretende-se também registar um aumento da agricultura biológica para que esta possa atingir os 25 por cento da área agrícola europeia até 2030.

 

Também iremos conseguir observar os efeitos da estratégia “do Prado ao Prato” enquanto consumidores, por exemplo, no rótulo dos alimentos. A Comissão irá propor que a rotulagem dos alimentos seja atualizada para que seja percetível o impacto na saúde dos consumidores, assim como o impacto ambiental dos produtos.

 

O impacto da dieta na saúde e como causa de morte é muito elevado na União Europeia. Estima-se que, só em 2017, tenham ocorrido 950 mil óbitos ligados à alimentação, ou seja, um em cada cinco óbitos. É por isso importante que as pessoas tenham mais consciência do valor nutricional daquilo que comem e de como a alimentação afeta a sua saúde. Dar mais ferramentas aos consumidores para avaliarem a sua dieta é uma forma inteligente de tornar as dietas mais saudáveis e evitar mortes prematuras.

 

Estas medidas serão apoiadas pela Política Agrícola Comum (PAC), cujo principal objetivo consiste em apoiar os agricultores e garantir a segurança alimentar da Europa. Na prática, a PAC irá apoiar a transição de sustentabilidade, fortalecendo os esforços dos agricultores europeus para enfrentar as mudanças climáticas e proteger o meio ambiente. No âmbito da proposta de criação de um instrumento de recuperação económica – #NextGenerationEU –, a Comissão propõe reforçar as verbas disponíveis no âmbito da PAC em 15 mil milhões de euros.

 

Tendo em conta as necessidades específicas dos estados-membros, os planos estratégicos da PAC a nível nacional estarão coordenados com a estratégia “do Prado ao Prato”, assegurando que tudo caminha para um objetivo comum: uma agricultura sustentável que, em simultâneo, tem em conta os aspetos económicos, sociais e ambientais do setor.

 

A apresentação destas estratégias num tempo de crise tem razão de ser. Em primeiro lugar, porque a resposta à crise da covid-19 não deve distrair-nos das outras emergências, que não desapareceram. Além disso, é do interesse de todos que a recuperação se faça de forma robusta e sustentada, para que dure e seja, não apenas, uma reconstrução, mas uma melhoria do paradigma anterior. Uma agricultura verde já era um objetivo para a Europa, e continuará a ser, contribuindo para a saúde dos europeus e do planeta e para a competitividade e robustez do setor agroalimentar europeu.

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