Diário do Alentejo

CAP acusa associações ambientais de “incoerência"

23 de abril 2020 - 09:50

A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) considerou que as seis organizações não governamentais, que se mostraram contra as medidas de flexibilização da agricultura, face à covid-19, são incoerentes, reiterando que apoia o Governo nesta decisão.

 

“As organizações contestaram a possibilidade de os produtores poderem agora praticar o pastoreio nas áreas de pousio e não serem obrigados à diversificação de culturas nas explorações cerealíferas. Estamos, portanto, a falar de duas medidas muito específicas, entre todas aquelas que os agricultores continuam a cumprir para benefício do clima e do ambiente”, aponta, em comunicado, a CAP.

 

Para a confederação presidida por Eduardo Oliveira e Sousa, a postura das organizações não governamentais (ONG) é “totalmente incoerente”, uma vez que estas “atacaram desde sempre a aplicação destas práticas benéficas para o clima e para o ambiente, impostas pela Política Agrícola Comum (PAC), por considerarem que tinham um benefício nulo para o ambiente e, agora, saem em defesa acérrima das mesmas, como se fosse o único garante do fornecimento de benefícios ambientais por parte da atividade agrícola”.

 

Neste sentido, os agricultores reiteraram o seu “apoio inequívoco” a estas medidas avançadas pelo Ministério da Agricultura, destacando a sua importância na valorização ambiental da agricultura e repudiando o comunicado conjunto das seis organizações, divulgado na terça-feira. Trata-se de “um comunicado cujo conteúdo é tecnicamente errado, ideologicamente orientado, sem evidências que o sustentem e que, por isso, merece ser publicamente condenado e corrigido”, vincou.

 

A confederação agrícola justificou a importância desta flexibilização, por exemplo, com o facto de Portugal não ser autossuficiente em cereais, o que iria implicar um aumento das importações de países distantes, “com tudo o que isso significa em termos de emissões”. Por outro lado, defendeu ser melhor permitir o pastoreio em áreas de pousio do que aumentar o consumo de rações, cujos componentes são também, maioritariamente, importados.

 

No documento, a confederação lembrou ainda que esta medida é apenas aplicada a explorações com uma área superior a 15 hectares, sendo assim “economicamente racional e valorativa da produção ambiental” e com “um impacto direto na redução de emissões”. Neste sentido, a CAP aconselhou as organizações em causa a aproveitarem o atual momento para apresentarem as suas posições com “bom senso” e informação.

 

“A agricultura é um setor com o qual os ambientalistas têm muito a aprender em matéria de boas práticas ecológicas e ambientais. O agricultor é o primeiro interessado na preservação do ambiente e na gestão adequada dos recursos”, concluiu.

 

Na terça-feira, seis organizações não governamentais de ambiente contestaram a decisão do Governo de flexibilizar medidas na agricultura devido à covid-19, afirmando que a doença não pode justificar “uma agricultura mais destrutiva para o planeta”. Num comunicado as seis associações expressaram “desacordo absoluto” em relação à medida de flexibilizar a obrigação de práticas agrícolas benéficas para o clima e para o ambiente, sublinhando que a crise criada pela pandemia de covid-19 “não pode justificar a destruição da natureza”.

 

Na semana passada o Ministério da Agricultura anunciou que os produtores já podem praticar o pastoreio em áreas de pousio e não têm a obrigação de diversificação de culturas nas explorações cerealíferas, uma medida de flexibilização para fazer face à pandemia de covid-19.

 

“Esta proposta de intensificação da agricultura vem no sentido oposto às orientações da própria Comissão Europeia no novo Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal), para uma maior diversificação do mosaico agrícola, aumento da qualidade da produção, e redução dos impactos da agricultura intensiva no ambiente e recursos naturais”, avisaram as associações ambientalistas (FAPAS - Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens, GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, LPN - Liga para a Proteção da Natureza, Quercus, SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e ANP-WWF - Associação Natureza Portugal).

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