Diário do Alentejo

“O Alentejo foi sempre uma região muito sacrificada”

27 de dezembro 2019 - 14:30

Carlos Rico é designer gráfico na Câmara de Moura. Publicou cartunes no “Diário do Alentejo”. Colaborou no “Jornal do Sporting”, “A Planície”, “Além Tejo Económico”. Tem vários livros publicados. Encontra-se a trabalhar num outro, com texto de Luís Afonso, para uma edição em BD. Marisa Bacalhau tem formação em História e Museologia. Trabalha como historiadora na Câmara de Moura e tem publicados vários trabalhos subordinados à história local. É atualmente corresponsável por um projeto de valorização do património imaterial.

Texto José Serrano

No âmbito das comemorações do 1.º de Dezembro, em Santo Aleixo da Restauração, Moura, que deve o seu nome à heroicidade com que ficou conhecida na guerra da restauração da independência de Portugal, face a Espanha, em 1640, Carlos Rico e Marisa Bacalhau apresentaram o livro infantil Uma aldeia, mil heróis…, que homenageia aqueles que deram a vida pela independência do País.

É este livro uma homenagem ao “sangue heroico” dos santoaleixenses?Trata-se de uma população valente e aguerrida, unida por um ideal comum, protagonista, em diferentes momentos da história, em confrontos que revelaram a coragem na defesa da sua aldeia. De todos, escolhemos o ataque a Santo Aleixo, em 1644, porque nele pereceu a maior parte da população. Geração após geração, esta história é transmitida oralmente e mantida entre as famílias como uma das maiores façanhas conseguidas pela população, que antes preferiu a morte a desistir da defesa da sua terra.

É um livro exclusivamente para crianças?Trata-se de um livro infantil, para ler em família. Além de ilustrar um facto histórico, importante no contexto regional e nacional, ambiciona transmitir aos mais jovens valores humanos. Convidará seguramente à reflexão sobre a união, a coragem, a lealdade, a resiliência, a solidariedade; da importância de não desistir face a contrariedades.

Consideram que o inconformismo, relatado na obra, se tem vindo a perder?O inconformismo dos portugueses – não só dos alentejanos – é algo que, tradicionalmente, só se faz sentir em situações extremas ou depois de passar o tempo suficiente para que as pessoas se fartem e desejem uma mudança. Sempre foi assim. Em 1640 a revolução deu-se após 60 anos de ocupação castelhana. O 25 de Abril deu-se após 48 anos de ditadura… Ou seja, gostamos mais de tomar um calmante e esperar que as coisas melhorem do que atacar logo o problema de raiz. Não é à toa que somos considerados um povo pacífico. Mas, quando é preciso, e chega a “hora certa”, sabemos resolver os problemas.

Esta história de resiliência poderia ser adaptada ao Alentejo de hoje?Achamos que sim, pois o Alentejo foi sempre uma região muito sacrificada neste país. A desertificação que esta região tem vindo a sofrer, nas últimas décadas, é algo que transforma os que cá vivem em verdadeiros “guerreiros”. Mas, como em todas as boas histórias, a resiliência e a coragem darão frutos.

O que gostariam que este livro viesse a despertar nos seus leitores?Gostaríamos que este livro servisse de incentivo, natural, à leitura e ao conhecimento da história local. Se os leitores deste livro se tornarem, eles próprios, emissários desta história, perpetuando a sua memória com um sentimento de pertença, então o princípio que presidiu à edição deste livro será cumprido.

 

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