Diário do Alentejo

António Cortez Lobão, Confraria do Vinho da Talha

11 de novembro 2019 - 00:10

O que é a Confraria do Vinho de Talha?

É uma entidade de direito privado que tem por objeto o estudo, promoção, divulgação e glorificação do vinho de talha. Neste âmbito, iremos organizar iniciativas como provas, concursos, conferências ou passeios culturais em que o tema central seja o vinho de talha, mas pretendemos também apoiar o estudo e a divulgação de trabalhos sobre este produto. Se quiser, o objetivo é glorificar as virtudes e tradições do vinho de talha, da sua história, da sua gastronomia, do seu enoturismo, do seu folclore e do cante alentejano. Através da confraria queremos ainda defender a genuinidade, tipicidade e prestígio do vinho de talha, contribuindo assim para a afirmação do seu prestígio, como património milenar e cultura a preservar. Na nossa agenda está ainda a colaboração com confederações e confrarias similares, báquicas e gastronómicas, nacionais e estrangeiras. Claro que, sendo uma confraria, também iremos defender e praticar o princípio das boas relações, solidariedade, cordialidade e união entre confrades, como comportamento caraterístico de pessoas ligadas pelos fins da sua confraria, pelo compromisso solene de tudo fazer pelo vinho de talha.

 

Quais as iniciativas que já estão agendadas?

O primeiro evento realizou-se no dia 9 de novembro, na antiga Adega do Barreto, em Cuba. Foi feita a apresentação da confraria, a que se seguiu a abertura de talhas e a prova de vinhos novos. Posteriormente serão agendados diversos eventos em colaboração com os produtores que queiram aderir. 

 

A que se deve esta moda dos vinhos de talha, uma aposta de muitos produtores alentejanos?

O vinho de talha está intrinsecamente ligado à história, à cultura e à vida social no Alentejo. Não é uma tradição remota, mas algo que faz parte do dia-a-dia da população, sobretudo nas zonas mais rurais. O dia de São Martinho, dia de abertura das talhas, é o momento mais alto na milenar relação entre o Alentejo e o vinho de talha. A tradição da talha no Alentejo foi trazida pelos romanos há mais de dois mil anos, nunca se perdeu, mantendo-se viva e presente em muitíssimas localidades da região. A ânfora de barro é um dos mais antigos recipientes para conservar e transportar líquidos. Na sua versão de maior dimensão, a talha, serve desde há mais de dois milénios para fazer vinho, uma tradição que o Alentejo nunca perdeu. Ainda hoje, nas zonas com maior cultura de vinha, são inúmeras as casas particulares que conservam meia dúzia de talhas, onde se fazem vinhos para consumo próprio. O Alentejo tem sido o grande guardião dos vinhos de talha, tendo sabido preservar até aos dias de hoje este processo de vinificação desenvolvido pelos romanos. Ao longo dos tempos, a técnica de fazer vinho em talhas foi sendo passada de geração em geração, de forma quase imutável

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