Diário do Alentejo

barafunda

29 de abril 2024 - 12:00
Coletivo de jovens homenageia o artista Chico Baião, da banda alentejana Ortigões

Dinamismo, criatividade e amizade. É desta forma que Filipe Carvalho e Diogo Tomás, fundadores do coletivo, apresentam o seu projeto audiovisual Barafunda que, desde 2019, dinamiza e valoriza o concelho e os artistas de Alvito. Nos dias que correm, os jovens estão a trabalhar no “Chico Baião – Serpente de Fogo”, um documentário sobre a vida do músico natural de Vila Nova da Baronia.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa  Foto Ricardo Zambujo

 

Na típica estação ferroviária de Vila Nova da Baronia, no concelho de Alvito, dois comboios fazem troca de passageiros. A algazarra da locomotiva que chega não condiz com o silêncio de quem sai naquela paragem e o de quem segue, neste caso, em direção à capital. Filipe Carvalho e Diogo Tomás, naturais da vila, conhecem bem os caminhos da linha férrea. Em tempos, à semelhança do que acontece com a maioria dos jovens, foram “obrigados” a procurar nos grandes centros urbanos soluções académicas e, mais tarde, oportunidades profissionais nas suas áreas de estudo, Ciências da Comunicação e Cinema Documental, respetivamente. Porém, contam, orgulhosos, que acabaram por contrariar essa tendência.

“Depois de estarmos numa grande cidade, numa outra região, é que percebermos o porquê de ser bom viver aqui [no Alentejo] e a necessidade de valorizarmos aquilo que temos na região”, começa por admitir Filipe Carvalho, de 23 anos.

Com esta consciência, em 2019, em conjunto com um grupo de amigos “com cursos relacionados com a comunicação e os audiovisuais”, regressaram à pacata vila com o objetivo de criar um projeto audiovisual, primeiramente, de valorização do concelho de Alvito, e, posteriormente, do Alentejo em geral. Numa primeira fase, segundo contam ao “Diário do Alentejo” (“DA”), o trabalho começou por se focar na cobertura, em vídeo e fotografia, de “eventos da vila”, mas rapidamente escalou para a gravação de videoclipes com artistas da região e, mais recentemente, para projetos autorais de produção de documentários e séries.

“Atualmente o nosso objetivo tem sido trabalhar com algumas associações aqui do concelho e não só. [Por exemplo], temos algumas parcerias consolidadas com o clube da terra, o Clube Desportivo da Baronia, também com [o grupo musical] Moda em Moda na gravação de alguns concertos e agora estamos a ver se conseguimos ter mais trabalhos com as câmaras aqui da zona”, reforça o jovem.Atualmente, o coletivo é ainda composto pelo técnico de som César Camacho, de 26 anos, e pelo realizador João Carvalho, de 23.

 

“Chico Baião – Serpente de fogo”

 

Outro dos projetos em que o Coletivo Barafunda está a apostar é na produção de um documentário sobre a vida do músico natural de Vila Nova da Baronia, Chico Baião, da banda de rock Ortigões.

“A ideia [do documentário] surgiu porque nós e os Ortigões somos daqui [de Vila Nova da Baronia], e também pela curiosidade de termos nascido no ano em que o Chico Baião morreu. Ele era a voz e a alma dos Ortigões, fazia tudo, e sempre tivemos curiosidade sobre a banda, visto que a ouvíamos em casa por causa dos nossos pais e irmãos mais velhos”, explica Diogo Tomás.

Em Vila Nova da Baronia, e um pouco por todo o Baixo Alentejo, as míticas canções “Serpente de fogo” e “Agora tentar deixar” foram, em muitas casas, presença assídua. Ainda assim, Filipe Carvalho e Diogo Tomás perceberam que, apesar do boom da banda nos anos 90, “havia muito pouca informação na Internet” e, como tal, fazia todo o sentido “prestar uma homenagem a um artista que é daqui da vila e do qual as pessoas conhecem muito pouco”.

“Os Ortigões foram talvez uma das maiores bandas do Alentejo inteiro em termos de repercussão e impacto até aos dias de hoje com as novas gerações a continuar a conhecer as músicas. Por isso, no fundo, é homenagear a banda e dar a conhecer o Chico Baião antes dos Ortigões também”, garante.

Com as informações que “estavam nos CD” o coletivo começou a procurar “algumas das pessoas mais ligadas ao Chico Baião e aos Ortigões” e a contactar familiares. Filipe Maximino, Mark Cain, Luís Beco, Rui Alves, Uchi Fechner ou Luísa Fechner são alguns dos entrevistados que “tiveram uma relação muito próxima, em diferentes fases da vida”, com o músico alentejano e que agora o recordam.

“Temos marcado entrevistas, já fizemos cerca de 20, e percebemos que o Chico Baião nasceu cá, foi muito novo para Lisboa e depois regressou com 40 e poucos anos para acabar aqui a sua vida, entre isso andou muito pela Europa, bebeu muito de outras culturas e é daí também o som dos Ortigões”, revela.

Iniciado o processo investigativo há três anos, o carinho com que a população abraçou também este projeto tem deixado os jovens admirados e entusiasmados com a sua estreia.

“É engraçado porque as pessoas estão sempre a perguntar como é que está o documentário, quando é que ele sai, porque já andamos desde 2021 nisto e só agora é que o vamos dar como terminado. Estamos a planear a sua estreia para outubro. Agora criámos as redes do documentário e vamos começar a partilhar mais informação”, adianta o jovem.

O documentário “Chico Baião – Serpente de fogo”, que conta com o apoio da Direção Regional de Cultura do Alentejo e da Sociedade Filarmónica Instrução e Recreio Vilanovense, apresentará o seu trailer na 4.ª edição do Festival Encontros de Alvito, no dia 1 junho, “aquando também de um concerto de homenagem aos Ortigões”.

 

De olhos postos no concelho

 

Quanto ao futuro, Diogo Tomás e Filipe Carvalho são perentórios. Embora saibam que é difícil manter este tipo de negócios no interior do Alentejo, o intuito “é tentar viver disto”, uma vez que as suas intenções passam “por ficar por aqui” a idealizar e a conceber “projetos mais ligados à terra e a todo o território”.

“Ambicionamos chegar a mais portas, conseguir mais colaborações, ajudar mais artistas e jovens a terem uma imagem e criar outros documentários do género”, conclui Filipe Carvalho.

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