Diário do Alentejo

“Uma profunda e emocionada alegria”

26 de abril 2024 - 12:00
50 anos de Abril

Texto  Aníbal Fernandes

 

Segunda-feira, 22 de abril de 1974. A semana começou com o anúncio, pela Direção-Geral de Segurança (DGS), da prisão de 30 militantes comunistas responsáveis pela “difusão de panfletos e outras actuações de propaganda, através das quais se incitava a acções revolucionárias no 1.º de Maio”.

Felizmente para eles a detenção não duraria muito tempo. Daí a quatro dias seriam libertados dos calabouços e encontrariam um país muito diferente daquele que se conhecia até então.

A edição do “Diário do Alentejo” de 25 de Abril de 1974 ainda não refletia aquilo que se tinha passado de madrugada. É caso para dizer que a Revolução chegou um dia atrasada à imprensa de Beja, uma vez que os jornais nacionais conseguiram – de manhã e em sucessivas edições – noticiar o movimento militar em marcha.

Assim, apenas na sexta-feira, dia 26, é que o jornal de Beja traria na capa a notícia de que as “Forças Armadas derrubaram o governo de Marcello Caetano” e que o general Spínola dirigia a Junta de Salvação Nacional.

“Nos seus quase 43 anos de publicação esta é a primeira EDIÇÃO LIVRE do ‘Diário do Alentejo’, nela se escrevendo sem quaisquer preocupações da interferência da censura à Imprensa ou dos seus interessados e mais ou menos encapotados influenciadores”, lia-se no texto principal do jornal dirigido por Melo Garrido.

O redator manifestava, ainda, a “profunda e emocionada alegria que sempre se sente quando, após um longo e doloroso cativeiro, podemos, certo dia, respirar fundo e aspirar aos caminhos belos e operantes da liberdade de pensamento e de expressão”.

Na capa dava-se conta da “adesão entusiástica da população” às operações militares desencadeadas no dia anterior e a “proclamação da Junta de Salvação Nacional”.

Na última página noticiava-se uma “vida normal no Baixo Alentejo”, mas o corpo da notícia deixava transparecer algo mais do que normal: “Segundo informações que conseguimos recolher, apesar das naturais dificuldades das ligações telefónicas, saturadas por numerosas chamadas de todos os pontos do País, a vida decorreu em perfeita normalidade em todo o Baixo Alentejo.

Em Beja, as primeiras notícias do movimento revolucionário foram recebidas com grande entusiasmo que se foi avolumando à medida que se criava a convicção de que o Governo de Marcello Caetano seria vencido.

A chegada, ontem à tarde, das edições dos jornais vespertinos, com notícias que confirmam essa ideia, provocou, na ‘baixa’, grande afluência de público e deu azo a manifestações de regozijo”.

A uma coluna, em última hora, ainda houve tempo para titular “Américo Tomás rendeu-se” e informar que o ex-presidente da República, na companhia do primeiro-ministro, tinha seguido para a Madeira, primeira etapa de um exílio que iria continuar no Brasil.

 

Fez ontem 50 anos que se deu o 25 de Abril

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