Diário do Alentejo

Quanto ganham os trabalhadores

05 de abril 2024 - 12:00
50 anos de Abril

Texto Aníbal Fernandes

 

A questão dos baixos salários não é um problema de hoje. Augusto Carvalho, o autor do artigo de opinião publicado na edição de 3 de abril de 1974, faz uma análise da situação com base num inquérito do Fundo de Desenvolvimento de Mão-de-Obra aos dados de 1972.

De acordo com o mesmo documento, 92,2 por cento dos trabalhadores com menos de 20 anos recebiam salários inferiores a 2500 escudos (12,5 euros), sendo que, desses, 26,8 por cento não ultrapassavam os 1600 escudos mensais.

“O panorama agrava-se ainda mais se tivermos em conta que o trabalho feminino de menores de 20 anos é pago em 96,8 por cento dos casos também por menos de 2500 escudos”, mas “45,9 por cento não chega a atingir os mil escudos”, acrescenta o articulista, concluindo que o estudo “mostra à evidência que o desprotegido trabalho de menores continua cada vez mais desprotegido”.

Quanto aos empregados com idade superior a 20 anos, “40,2 por cento não chegam a atingir os 2500 escudos e dos restantes 59,8 por cento só uma percentagem de 17,9 do total aufere salários superiores a quatro mil escudos”.

“83,5 por cento das mulheres-trabalhadores deste grupo etário (o que representa mais 43,3 por cento que os homens) recebe mensalmente menos de 2500 escudos e só 3,3 por cento atinge os cinco mil escudos”.

Também no que diz respeito à geografia, os problemas assemelham-se aos dias de hoje, com enormes diferenças entre o interior e o litoral: “Os elementos referentes à distribuição percentual, segundo os distritos, fornecem-nos conclusões que têm muito a ver com a actual concentração dos sectores comercia1 e industrial nos distritos do litoral, principalmente nos de Lisboa, Porto e Setúbal”.

“Assim, para estes distritos, e no que se refere a menores de 20 anos (homens e mulheres), a percentagem média dos que têm um salário inferior a 2500 escudos é de 90,8 por cento enquanto que nos três distritos alentejanos a percentagem, embora pouco superior, é de mais 6 por cento (atentemos a que nos estamos a referir a valores médios). Será interessante acrescentar que o distrito de Portalegre detém, neste campo, o maior valor percentual: 98,9 por cento, cabendo a Évora e Beja os valores de 97,5 e 94,2, respectivamente”.

No final do artigo, Augusto Carvalho – que foi diretor do “Expresso” e da agência “Lusa” e faleceu em 2012 – tira três conclusões que, no geral, podiam ser tiradas hoje: “A primeira e mais importante é a de que o nível salarial do trabalhador português é baixo; Que existe uma acentuada diferenciação salarial consoante a situação geográfica, encontrando-se os distritos do interior bastante inferiorizados em relação aos distritos litorais, principalmente aos de maior concentração industrial e comercial; Que o distrito de Portalegre, no contexto dos distritos alentejanos, apresenta os valores mais baixos, tanto no que se refere a trabalhadores menores como maiores de 20 anos”.

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Na edição do dia seguinte, quinta-feira, na secção “Zunzuns das Portas de Mértola” escrevia-se o seguinte: “Tem-se conhecimento que durante a noite foram escritas em paredes frases de protesto contra o aumento do custo de vida acompanhadas de legendas consideradas subversivas”.

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